Ando sempre fechando todas as portas
Cauteloso e irritado
Não temo a indiscrição dos ladrões
                Estes nada podem me roubar
Apavoro-me ante o vulto de velhos conhecidos
                Gente igual, repetida
Dispostas a inconfidências aborrecidas.
 
Ando driblando esquinas, mergulhando nos metrôs
Meu destino sempre a última estação
Disperso por fim esqueço-me de mim
                Chamo-me de nomes que nunca ouvi
E que logo esqueço depois de espirrar (sou alérgico, desde pequeno).
 
 Estou enfastiado, eis o truque que este poema
                Despropositado e monótono
Pretende disfarçar (mas não disfarça, poema
                realidade).
Não me interessa a verdade nem a mentira
A versão nem a explicação
E assim não me interessa o poema (inconformado em seguir
       minhas tortuosas intenções).
 
Já nada me interessa - eis a conclusão!
A não ser, quem sabe, um livro a ser escrito
Ou uma cidade a ser visitada – boa ideia!
Mas um livro e uma cidade (terão ambos o mesmo nome?)
Estão dispersos na neblina e o meu cansaço
                É enorme como o sol que não vem.

Melhor ficar entocado, sem nada planejado
Xingando os que conheço e os que nunca vi
Estou irremediavelmente perdido e achado
Na suma concreta deste desprezo adocicado.
 
Vou ter, isto sim, dezenas de filhos
E deixar de ser aquele que se debate em mim.