COM-SERVA-DOR
Ao bebê dão a chupeta,
o leite, o cobertor.
À criança, dependendo do gênero,
a boneca ou trator.
Dão também o dever,
a ordem e a lição.
Noutras vezes dão carinho e
Dizem bonitinho: “Não! Não! Não!”.
Cresce devagarzinho, caminhando com muito medo.
Primeiro dando a mão aos grandes,
Depois se vira com seus dedos.
Quando cresce de verdade,
Há uma conta a se pagar:
Querem que ele continue obediente,
Que lhe digam “sim” a toda hora.
O pobre adulto não sabia da conta o terço!
Diz: - Não! Não! Não! Dessa dívida eu não padeço!
Chamam-no de revoltado, egoísta e mal-agradecido,
Fazem-no pagar a conta limitando seus atrevidos.
- Essa casa é minha! Esse dinheiro é meu! Para sair terás que pagar o ônibus com o dinheiro que for seu!
Ele aceita o desafio de desafiar a sua história.
Mas entra no enredo do homem certinho, conquista trabalho e glória.
Ganha seu próprio dinheiro, paga sua própria casa – lá se foram cinco anos de ação não-rebelada.
Um “sim” fingido de “não”; o cordeiro em pele de lobo.
Tolo, tolo, tolo...
Na nova casa falta muita coisa,
Só não falta conta,
Conta, conta e mais conta.
São datadas de muito tempo,
Antes mesmo dele existir.
E ai dele de dizer não,
corre o risco de sumir!
Treme de medo, engole a revolta,
retorna a dar à mão aos grandes,
realmente GRANDES:
Ignora que ignora a piora.
(o que, aliás, é muito confortável...
se não quiser sair de casa).