TABLADO INFAME
(PARÁFRASE)
" Je ne livrerai pas ma vie à tes bués"
"Je ne danserai pas sur ton tréteau banal..."
(LECONTE DE LISLE)
Como um torvo animal, vil, poeirento e chapado,
Preso à corrente, uivando em plena soalheira,
Descubra quem quizer o peito ensanguentado,
Na tua feira abjeta, ó plebe carniceira!
Para em vão te acender o olhar bestificado,
Ou mendigar-te o riso e a compaixão grosseira,
Do Pudor quem quizer rasque o manto sagrado,
Transforme a sua Musa em cínica rameira!
No meu orgulho envolto ou meu túmulo ignoto,
Desapareça embora entre os bulcões do Nada,...
Não! jamais saberá - que sofra, odeie ou ame -
O que se passa em mim! Como um palhaço roto,
Expondo a minha vida à tua gargalhada,
Não! jamais dançarei no teu tablado infame!...
1903.