HÁ UMA LINHA TÊNUE

Há uma linha tênue entre o ver e o sentir

porque os olhos podem até se enganar, mas a alma, não.

Vejo a linha fina do horizonte,

um solo espelhado, duas árvores.

O mais que o olhar pode é enxergar para além das aparências.

E sei que existem infinitas possibilidades

de frutificar a alegria mesmo na secura dos dias atuais.

No ventre da semente já se guarda o projeto

da árvore inteira, com seu tronco, seus galhos,

suas folhas, suas flores e seus frutos.

Do mesmo jeito, no coração do poema

já existe o pulsar das palavras que um dia correrão nas veias

do mundo, irrigando-o de sonhos plenos.

Feito a aurora que já se inaugura nos primeiros raios de sol.

O amanhã não me assusta.

Sou pássaro de asas longas que se abrem para o voo

sobre o precipício das ilusões.

E as métricas não me importam mais.

Deixo as rimas de lado.

Resta-me apenas uma folha branca de papel.

Nela, rabisco o mistério do indecifrável existir sem medo.

Numa folha se desenha um rosto qualquer.

E esse rosto sorri um poema.

Depois, a arte lhe sopra um desígnio.

E suas faces se colorem de vida.

E no reverso do espelho surge a contraparte

da face destemida daqueles que se miram

no espelho da inocência.

Do mesmo jeito que o outono desfolha a árvore,

desnudo-me da arrogância e sinto que a grandeza

passeia num grão de nada, solto ao vento.

No grão de areia reside a duna.

E na criança, o projeto do homem completo.

José de Castro
Enviado por José de Castro em 01/02/2015
Reeditado em 01/02/2015
Código do texto: T5121825
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