PINTURA A OLEO
(Marinha)
Contra a rocha que sempre impávida se apruma,
A onda sempre a bater, como um trovão detona;
Sangra o sol moribundo; a montanha se esfuma;
Vem a lua a boiar dos vagalhões à tona.
Do horizonte na escura e formidável zona
Entra, lento, um navio amortalhado em bruma;
A água do mar parece um verde amazona,
Sacudindo na treva o sei cocar de espuma.
As palmeiras têm medo! Ao furibundo açoite
Do nordeste, no azul, vão-se acendendo as brasas
Dos astros, metralhando o veludo da noite.
Uma gaivota a piar, como um lúgubre harfangue,
Lá foge barra fora, abrindo as grandes asas
Que o último olhar do sol mosqueia de ouro e sangue...
1902.