Relicário
Das coisas que eu quero guardar
Deixo no céu aquela estrela
Que te vi apontar.
Deixo o sal do suor seu,
Do mar-céu da boca minha.
Deixo-me a me entregar sua
Na fumaça do cigarro que trago,
No fogo da cachaça que bebo
Embebedando-me de você.
Trago o que não vivemos
Traduzido em poesia,
Gravado na beleza do que não foi.
Deixo, intocável, o cenário
E apenas guardo nesse peito relicário
Pra que não possa ser desfeito
Pelo acaso, pelo ato, pelos fatos:
Esse amor inconcebido, inconsumável,
Incandescente,
Da gente.