MARINHA

Desce a Noite enrolada em brumas hibernais...

Trágica solidão, vago instante sombrio,

Em que, tanto de medo, o olhar não sabe mais

Onde começo o mar e onde acaba o navio.

Nem o arfar de uma vaga: o mar parece um rio

De óleo; oxidado o céu de nuvens colossais,

Um zimbório de chumbo acaçapado e frio,

Escondendo no bojo a alma dos temporais.

Nem das águas no espelho o reflexo de um astro...

Apenas o farol,no vértice do mastro,

Rubra pupila, a arder, dentro de uma garoa.

E lá vai o navio espectral, lento e lento,

Como um negro vampiro, enorme sonolento,

Pairando sobre um caos de tenebras, à toa.

1900.

DR. EGAS MONIZ BARRETO DE ARAGÃO (PÉTHION DE VILLAR)
Enviado por Francisco Atila Moniz de Aragão em 29/01/2015
Código do texto: T5118118
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