[Desarranjos para a lambedura de cães]
Em que abismo... onde, sob qual luz,
ou sob qual sombra amorfa e tétrica
lançarei aquele traço pior de mim,
se nem mesmo tenho algo a ser
considerado o melhor [de mim]?
O pior e o melhor se misturam sempre...
De uma coisa eu sei: tudo que eu tenho
são feridas aptas para a lambedura de cães,
pois, quem pensaria as feridas de outrem?!
Desalinhos, desarranjos... são os tropeços
na errática caminhada do meu Eu-ontem,
os traumas daquele que eu já não sou mais.
No entanto, eu me vivo: num rasgo de morbidez,
eu sinto saudades daquelas pretéritas emoções,
e dos amores vividos por aquele Eu-ontem!
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[Desterro, 23 de janeiro de 2015]