RÉQUIEM da METRÓPLE

Tambores relampeiam tempestades truculentas bêbadas de carne

anjos de mármore afundam em operações bancárias

provando o inquestionável deboche do Poder sobre o Bem

Tecer palavras como figurinista d'um deserto não revela a força da Terra

inconfundível como homem nu entre tigres amestrados

Tenho caminhado não com pés mas com olhos pelo meio de pessoas que trazem esporas na fala

O planeta avança dividido entre o anjo da ciência e o anjo do desastre

Caminhos existem passos dissolvem além do chão, atrás dos muros

a cidade digere o não-ser Réquiem do último dos centauros, o fêmeo

o Primeiro dos Trombadinhas toca o Dedo do Senhor

Homens ao meio (tornaram deserta a sensibilidade) surgem após o meio-eco dos passos

devastando campos aonde rolam amantes Amor agora detém-se afixado em território

mas o que é local reservado para amar se não é público meu amor

e o lado escuro do mundo aonde perco meus beijos? Acaso silêncio e mundo são opostos?

Uma bolha de aço é formada do hálito coletivo

Instalei nos sonhos lemes conduzindo a um país de jaulas

Sentí estruturas de concreto e vidro sugadas pelos poros

baile macabro dançado por cães danados e velhas frígidas

Bancários padres jornaleiros caminham na avenida abarrotada de foguetes e caravelas

última tribo de humanos adorando o aparecimento no horizonte da bomba A

descalçando rostos decalcando vozes

ave hipnótica a propaganda destila a multidão

Casa das máquinas do mundo um esquadrão da morte de banqueiros internacionais

baila no cemitério de automóveis entre anjos caídos e odaliscas de incontáveis sexos

A Comunicação define o Verão

Vendo no céu do vídeo a mulher-nua habitante dos sonhos enlatados

estranheza fez gemer a escultura de massa falida

Havia títulos de protesto gravados no zênite levando a aurora à bancarrota

insolvência da fé

Centro comercial apunhala o céu

Sagitários-marinhos decolam da língua da mulher montada na flecha cravada no olho do céu

acasalados soando auroras quadrafônicas

Leve-me ao balcão do poente

onde duchas de fogo amolecem anjos transformados para o amor que os enche de matéria

Leve-me onde humanos

trajam mantos de serpentes vivas

onde o Bem e o Mal vivem amor mútuo e inseparável

Leve-me através

das curvas traiçoeiras do paraíso aonde a fé é doutrina militar.

Esqueça, eu conduzirei

a multidão pela escadaria insuperável da Ordem Libertária