SÓ
(RICHEPIN)
TEREZA RIMA
Dentro do teu orgulho, assim como um leão
Dentro do seu covil, tranca-te ferozmente;
Se grande queres ser, foge da multidão!
Quem se mistura à plebe - o axioma não mente -
Há de se transformar num asno ou num palhaço
Da canalha ao mangual curvado eternamente.
Dentro da multidão faltam-nos ar e espaço...
Os eleitos do azul - os bardos e os amantes -
Gostam da solidão que não tolhe o passo.
Das gemas a mais rara - o rei dos diamantes -
É a que o joalheiro um solitário chama
E com ela remata os cetros deslumbrantes:
Atirai-a, porém, dentro do mar que brama
Ao lôbrego vai-vem, dos rudes vagalhões
Que resolvem à toa pérolas e a lama,
Essa pedra de luz que val tantos milhões,
Que faz inveja à estrela e é da terra o orgulho,
Perderá para sempre a alma dos seus clarões
E arredondar-se-á como um vil pedregulho!...
1899.