Atentai para os olhos dos que choram sem saber
Atentai para os olhos e a face dos que choram sem saber
Deixai as lágrimas se desdizerem em sonhos e mensagens
que a chuva miúda lhes recordava
e lhes desenhava, a lhes escorrer pelo rosto,
revelações e arabescos
e o gosto todo do sonho e da brisa que sopra à noite
e que a um canto o canto reviva
e enlace a solidão oculta nos olhos obliterados pelas lágrimas
que a vida é estes grãos de incertezas
estes poemas calungas,
é este sonho antigo e sem fim,
este instante onde a sapiência incognoscível se manifesta
e se esvai antes da semente cair na alma
e morre como a luz há de morrer num derradeiro poente,
esta dor cor de cereja,
escorrendo incontinenti por entre os dedos
sem que se atente minimamente para as perguntas
ou para o silêncio e a ternura engastados nas respostas
Lamentai, em silêncio os olhos e a face dos que choram sem saber
Deixai as lágrimas se desdizerem em silenciosos soluços
e que do soluço faça-se a brevidade do tempo ingente
posto que seus olhos se fecham
e vão por caminhos sempre tristes
conduzidos pelo medo e a dor maior que dói e aflige
para além do ignoto momento
em que suas lágrimas deixam o sal
nas costas das suas mãos entre suspiros e mentiras
e seus lábios, sem perderem o encanto,
tartamudeando a palavra que não sabe,
deixam em meu ombro
o adocicado do borrão do seu batom