O que carrego nas mãos

O que carrego nas mãos

se não estes escuros

esta sombra da qual me visto

esta noite da qual me sonho

esta distância na qual me morro

este tempo ao qual me vendo?

Desde quando tudo demorando em ser firmamento?

A tarde passando assentada

e tudo demorando em ser caminhos de areia

que vão dar num mar sem tamanho,

como uma incomensurável lágrima azul

o dia restando lacônico

o sol pespontando a existência do rio

e vermelho-amarelando as águas que, dissolutas,

bebem estrelas,

desfocam a lua

e o mundo hesita quando o vento passa já sem grades

e o ar quebrado estremece querendo chover

O que carrego nas mãos

se não estes escuros

esta sombra da qual me dispo

esta noite da qual me pássaro

esta distância na qual me voo

este tempo no qual me extingo?