quando as tardes não passavam

Por acaso, por esses dias

por essas casas,

caminhando entre

tudo que já quis,

deparei-me com esquinas

distintas,

com lembranças distantes,

tempos em que eu não desaparecia

deserto,

em que o aqui nem existia

e os becos e fantasmas

das meias-tardes

não seguiam meus passos

nem riam dos meus choros,

que eram apenas do sangue

ensolarado nas pedras do meu mundo.

No ocaso, aqueci

meus olhos nas cores opacas

dos "recuerdos" de si,

e ali mesmo derramei os acordes

secos da saudade própria.

O caso é que, foi coincidência

encontrar comigo mesmo

naquele pedaço de vida concretado,

enquanto os gritos marretavam

os impulsos que me trouxeram

até hoje, sob os ecos surdos

a sumir no abismo ósseo-férreo

que ainda resiste,

porque medo,

medo é coisa de gente grande.

Com o passar dos muitos passados,

circunferências naufragas

de restos e possibilidades

cercando o eu-ilha inabitável,

há consagrado o artifício de fugir

e, desde toda lembrança que sou,

estou, estive,

acho que me esqueci.

Henrique Pitt
Enviado por Henrique Pitt em 19/01/2015
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