RESPOSTA A HAMLET

(Paráfrase)

" Acaso existirá para nós algum porto,

Da outra vida no vasto e formidável mar?

Continuarei acaso, até depois de morto,

Agarrado à minh' alma a sofrer, a gozar?

Hamlet medita e diz: - Dentro da sepultura

Hás de sonhar talvez, talvez hás de dormir, -

Pois bem, a minha fé robusta me assegura

Que hei de continuar a viver e a sentir.

A cova é um degrau donde a lama, abrindo as asas,

Voa direto aos céus para o seio de Deus;

Quer consumam o corpo humildes covas rasas,

Quer o tentem guarda pomposos mausoléus.

Dum cadáver jamais digamos: " Cinza e nada",

''''Tudo se finda ai! dum túmulo ao se abrir,

Num grão d' areia dorme uma vida incubada,

O Passado renasce e chama-se porvir.

A morte é um nome vão. Não há tréguas na vida:

A onda que numa plaga, audaz vem rebentar,

Não morre, volta e vai, espumando, perdida,

Misteriosamente outras ondas formar -

Misteriosamente outras ondas formar.

O Universo é assim! tudo se transfigura;

Mas há de reviver na grande Hora sombria...

Nessa triste prisão chamada sepultura

Até á própria cinza\ há de ser Carne um dia!

1897.

DR. EGAS MONIZ BARRETO DE ARAGÃO (PÉTHION DE VILLAR)
Enviado por Francisco Atila Moniz de Aragão em 18/01/2015
Código do texto: T5106106
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