MEU TEMPO CHEGOU.
Meu tempo galanteador, falante,
que malabariza com as cores, com as dores, com os amores,
que finca sua raiz onde bem quer,
voltou.
Meu tempo algoz das flâmulas da alma,
fardo farto das tetas robustas dos deuses,
rastro faminto querendo atracar e sem nunca conseguir,
voltou.
Meu tempo que se mostra desnudo, por vezes camuflado,
tem olhar rasgado, voz sem nexo,
tem no seu sangue as tâmaras perdidas do céu,
voltou.
Meu tempo pródigo, por vezes nefasto,
por vezes negado, por vezes espezinhado,
voltou.
Ele que não escolhe suas presas, nem seus hóspedes,
pároco bizarro das capelas vazias da vida,
voltou.
Meu tempo está limpo, sacudiu todo pó,
cuspiu toda sua ânsia de tubarão.
Meu tempo está vivo, ex-falido, ex-enterrado, ex-defecado.
Meu tempo se faz gigante e nada o deterá. Nada mesmo.
Já tentaram esmigalhá-lo, já tentaram fazer dele só farelo.
Já tentaram até esquecer dele pra sempre. Que nada.
Suas escoras se fizeram tamanhas que viraram o jogo.
Seus fados esquisitos agora são samba-canção.
Seus gritos de dor agora são berros de louvor.
Meu tempo está de novo menino, de novo luz.
a casca de suas feridas já caiu.
Pra todos que só tentaram exilá-lo,
só fizeram rir dele até não poderem mais,
que vejam esse show até o último acorde.
Pra todos que nunca iriam aplaudir,
nem tampouco decantar meus ossos puídos e cansados,
que sejam felizes junto comigo.
Meu tempo chegou. Agora nada mais o fará fugir, ou deixar de rugir,
se esconder, se fazer de palhaço, se fazer de pedinte,
se fazer de embalsamado.
Meu tempo chegou. Agora nada mais fará ferrugem,
nada mais fará feder seus passos, nada mais arrancará
um pedaço qualquer.
Meu tempo chegou para saciar tudo que merece.
Chegou para nunca mais sair desse palco.
Nunca mais mesmo.
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