UMA MANHÃ, LITERATURA E O FIM DO MUNDO



O verso de saideira
Contemplava um céu amarelo-prata
E trinados de bem-te-vis...
A madrugada passara,
Viva, clara.
Amanhecia.
Agradeci, ex toto corde.
Retomei meu primeiro sono
Como se fora meu verso primeiro,
Deitada de lado, ao reverso,
Mas, então, mais feliz.
No ar, palavras e histórias,
Centelhas mágicas!
Os burros zurram,
As galinhas cacarejam,
Unem-se num concerto matinal
Com aves da estação e em extinção.
Fazem literatura?
Talvez...
Não pode ser apenas mais uma manhã
E animais em seu cotidiano acordar
Enquanto eu me espreguiço, com tédio...
Os bichos, as árvores
Os cheiros, os sabores,
As águas...
Águas doces e salgadas,
Vindas de todos os confins,
E de ti e de mim... 

Admirável e difícil o viver...
A morte dissolve tudo.
Há um dilúvio sobre e entre nós.
Ramos de oliveira?

Acta ex fabula! 





Expressões latinas:

Ex toto corde: de todo coração
Acta ex fabula: acabou a farsa,  fecha-se a cena.

Colagem de imagens por  KML, com base em "Ensaio",  de F. Borgerth
KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 02/06/2007
Reeditado em 21/01/2014
Código do texto: T510525
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