DESEJO
novamente esta sensação no ar...
esta sensação perversa da paixão...
de sentir o sentimento da emoção
como um copo d'água que transborda de tesão...
nunca principio nem acabo nada;
nunca seduzo, sempre sou seduzida;
permaneço sempre o sujeito enamorado
adorando o objeto amado... de um momento...
a meia luz, a penumbra ou qualquer outro subterfúgio...
a noite que acalenta a ilusão
de uma quase verdade que não existe
que transforma o sonho em realidade...
sempre o sujeito enamorado
que espera, que anseia, que sofre
na expectativa de um encontro,
de um toque disfarçado, de que alguma coisa aconteça...
a expectativa me enerva...
permaneço estática e indefesa,
vulnerável de braços abertos
ao encontro da ação...
contemplo esse enorme vazio
que explode o ar de possibilidades...
meias palavras, meios olhares, meios gestos...
a fascinação me alucina...
os dados foram lançados
e estão parados no ar...
será que existe alguma chance?
a incerteza me dá medo!
o jogo da sedução
que sempre paira no ar
me impulsiona ao crime...
mas nunca principio nem acabo nada...
e o meu crime se avoluma
justamente por não comete-lo,
por não torna-lo real,
por não torna-lo meu...
apenas, uma vez, poder tocar no concreto,
nessa massa de carne tão próxima...
basta um gesto, basta um movimento...
preciso tanto me fazer um pouco feliz!
o desejo aumenta a cada instante,
a cada gesto não feito,
a cada palavra suspensa no ar,
a cada vontade contida no olhar...
é difícil permanecer neutra
quando o controle está por um fio,
quando a razão fraqueja,
quando o desejo grita que sim...
mas sou sempre o sujeito enamorado,
sempre um ser de emoção...
nunca o objeto amado,
nunca um ser de ação...
e cada vez mais vou morrendo
pela covardia que me corrói
fazendo que sempre perca,
que sempre saia derrotada...
preciso tanto de amor!
alguém que me toque,
alguém que me acaricie,
alguém que me ressuscite!
por que você não tenta?
é só o que desejo!
estou esperando de braços abertos
que sua loucura seja mais louca que a minha!