JESUS MENINO EM PESSOA
(Alberto Caieiro e o Guardador de Rebanhos VIII)
Frente ao monitor desta máquina de fantasias, estou aqui, tomado pelo espírito do Menino – que já vivia em mim e eu pouco o conhecia.
Os dentes não mordem mais porque estão extáticos, e não tenho fome. Retinas esbugalhadas me fazem doído de ver o menino.
E a terra inteira é uma melequenta rapadura deitada num tacho de uvas furtadas ao pátio da infância.
Porque o Pequeno ocupou-me olhos e memória, como há dois mil anos.
E agora a palavra desce liquefeita sobre a face, dançando nas rugas, que se incandescem do espírito dele.
E nem consegui roubar-lhe um beijo. Só ficou – de dentro para fora – um imerso silêncio.
Talvez ele tenha deixado uma caixa mágica para que um dia – quando for e tiver de ser – eu seja ele com sua máscara de misérias.
Mesmo que dentro das células da eternidade, que nada mais é do que aquilo que nunca acaba.
E de novidade mesmo, somente a Paz Absoluta, em meio a esta sepulcral voz que nada diz.
– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2013/14.
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/5102514