[Agonia antiga]

Em silêncio, nos refazíamos do último gozo...

Pela veneziana aberta do quarto do sobrado,

contemplávamos a lua cheia, o céu limpo,

e as estrelas criando infinitos em nossas mentes...

Na sala, lá embaixo, tudo calmo;

o gatinho brincava na cortina,

o disco acabado chiava baixinho,

e sobre o mármore da mesinha de centro,

nos nossos copos, solitários, derretia-se o gelo

no restinho do Martini que não bebemos.

Tuas mãos pousadas em meu rosto,

meus olhos perdidos nos teus,

nossas pernas entrelaçadas,

e queríamos mais paz ainda... para quê?!

Elastecer mais o instante — impossível!

O tempo da agonia é remansoso,

O tempo do amor é lampejo no céu!

Resta-nos o consolo de saber

que, ainda que vivêssemos mil anos,

não esqueceremos aquela noite.

Outros braços? Talvez, talvez...

pois vida é corte, é perda:

logo separa os que se amam.

Ah, Amor e Agonia — o perpetuo dialogo!

_____________________

[Desterro, 07 de janeiro de 2015]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 14/01/2015
Código do texto: T5101476
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.