[Agonia antiga]
Em silêncio, nos refazíamos do último gozo...
Pela veneziana aberta do quarto do sobrado,
contemplávamos a lua cheia, o céu limpo,
e as estrelas criando infinitos em nossas mentes...
Na sala, lá embaixo, tudo calmo;
o gatinho brincava na cortina,
o disco acabado chiava baixinho,
e sobre o mármore da mesinha de centro,
nos nossos copos, solitários, derretia-se o gelo
no restinho do Martini que não bebemos.
Tuas mãos pousadas em meu rosto,
meus olhos perdidos nos teus,
nossas pernas entrelaçadas,
e queríamos mais paz ainda... para quê?!
Elastecer mais o instante — impossível!
O tempo da agonia é remansoso,
O tempo do amor é lampejo no céu!
Resta-nos o consolo de saber
que, ainda que vivêssemos mil anos,
não esqueceremos aquela noite.
Outros braços? Talvez, talvez...
pois vida é corte, é perda:
logo separa os que se amam.
Ah, Amor e Agonia — o perpetuo dialogo!
_____________________
[Desterro, 07 de janeiro de 2015]