O Cofre da Poesia
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la de alguém, mas sim de nós mesmos. Em cofre não se guarda coisa alguma, mas perde-se da vista. Guardar uma coisa não é esconder, é olhá-la, fitá-la, admirá-la, buscar sua luz. Guarda uma coisa é vigiá-la, ou seja, fazer vigília, ou seja, perder o sono para velá-la, ou seja, perder o sono para velá-la, ou seja, dedicar-se, para ser seu, só seu, de estar perto ou para ele. Por isso, é melhor guardar o voo dos pássaros, do que pássaros sem voo; jardins de flores, do que jardins de espinhos; por isso, se escreve, para registrar o que sentimos, pensamos, vivemos, não para trancá-las no nosso velho baú, mas para publicá-las, deixando nosso legado para ser declamado e ouvido por futuras gerações. Por isso, é melhor guardar a vida com amor, que uma vida sem amor. A finalidade do poema é guardar-se o que se quer guardar.