Minha Infância
Minha Infância.
Quando era criança, nas férias em Conquista ia passear, e era doce rever os campos verdes daquele lugar, meu tio Güerino que Deus há de guardar. Tinha um mangueiro, feito pros porcos engordar, tinha bananeira e tudo que é fruta lá nós íamos apanhar. Eu e meus primos, Lorim, Brechó e Pinco, apostávamos corrida no lombo dos bichos, era cada capadão que dava gosto de ver, minhas primas, que eram três, os nomes não posso dizer, pois casaram e coisa boa certamente não ia acontecer, não que fizéssemos coisas erradas, acho até que eram bem acertadas, mais seus maridos, com certeza não iam entender, mas era bom pra valer, tinha minha bisavó, que em português quase nada sabia dizer, mas a vida lhe fez tudo aprender, no fundo do quintal de sua casa, tinha uns cinco pés de goiaba, e as meninas subiam pra fruta apanhar, mas era eu e meus primos que embaixo ficávamos a saborear, até que uma de minhas primas resolvia, nu pé trepar, aí a coisa ficava preta, pois Pinco o primo mais velho, já queria a prole afastar, e nós correndo do primo, gritávamos a brincar, "a calcinha das outras, ele também que olhar, mas a da sua irmã que é de florzinha, ele que ocultar", e se ele pegasse um de nós, aí a coisa ficava feia, pois o danado era bom na capoeira. Foi um tempo muito bom. No sábado à tarde, muito bem vestidos, íamos um bando de meninos, no cinema ver um faroeste, que apesar de ser sempre repetido, era muito divertido. Depois na praça passear, a gente circulava ela, dez, vinte vezes, comendo pipoca e fazendo fofoca, confesso que hoje, parece coisa de boboca, mas em época nenhuma de minha vida fui tão feliz. Só tinha uma coisa que era de lascar, minha avó Liberta era brava pra dana, e se as coisa não fossem pra ela agradar, pode ter certeza, que a velha punha pra quebrar,apesar de meu avô João Ouro, parecer um touro, era ela quem mandava, e não tinha discussão, a velha lavava defunto e era só ela quem aplicava injeção, mulher queria do marido largar, lá vinha a Liberta pra solucionar, curava tosse, e era a primeira de qualquer procissão, e até o padre, com ela vinha tirar opinião. Digo era, não porque se foi, mas sim porque hoje estava velhinha, e só resolve os problemas das vizinhas, e se os senhores a quiser conhecer, às sete horas na calçada da rua Grande, no numero 215, uma boa prosa ela fica todo noite com a vizinhada a bater, sai cada história de assombração, e muita mentira de pescador contado por vovô João, que logo ganha uma bronca da velha, "larga de se mentiroso marrucão". E nessa hora, ninguém a desafia não, pois sabem que a velha tem razão. Pois meu avô, na pesca, sempre foi muito bom, mas é verdade também, que os peixes que ele trazia eram sempre menores que as histórias, que segundo ele, no barranco acontecia, mas numa história ele sempre insistiu: "peguei um dourado, maior que a barcaria, o bicho tinha até barbicha, mas minha linha não agüentou, e até a vara pro meio do rio levou". E antes de terminar, lá vem minha avó a lhe bronquear, ele masca seu cigarro de palha, solta um cuspe pro lado e baixinho da seu recado: "o véia do diabo". Mas minha alegria era curta, pra Brasília tinha que voltar, pois as aulas iam recomeçar. Meu pai, que é uma pessoa que sempre muito vou amar, na rodoviária estava sempre a nos esperar. Então eu passava seis meses sonhando com o dia das férias novamente chegar, pois queria do alto da serra, no banco da jardineira, o sino da matriz de Conquista, novamente avistar.
Poema de Orlando Jr.