Hiatus III
Tenho as mãos de fogo para queimar tudo que amo
Toco tuas folhas e elas fumegam
Memórias fumacentas de dias verdes
Tenho as mãos de fogo para queimar de volta a mim mesmo
Toco minhas pálpebras e elas ardem
Espectadoras vermelhas de tantos dias
Tantos dias que lembro me fogem esvaindo-se no fumo ascendente
Tenho as mãos de fogo
Tenho os olhos de mármore
Tenho a boca que morde minha língua e degusta o sangue
Tenho sede, tenho vontade de urinar
Tenho que aprender a deixar
Levantar e ver face a face cada um dos meus medos
Tenho as mãos de fogo, tenho medo de amar
Porque tenho as mãos quentes de tanto machucar
E tenho a dor verde de nunca parar de queimar
Tenho as mãos de fogo, não te posso tocar
Escrevo palavras de fogo em tua roupa
Por pouco não atinge teu peito
Que tu escondes com medo das minhas mãos
Tenho a palavra fogo em todo lugar
Tenho um hiato que não é hiato porque nunca foi
Não é um período intermediário, é o fim
Tenho que acabar a dor das chamas em meus dedos
Mas eu não te posso tocar assim
Nunca te posso tocar
Porque sobe o cheiro da minha mão queimada
E esse cheiro dói em mim
Mais que a própria dor em si
Tenho as mãos de fogo para queimar tudo que amo
Vejo marcas de queimaduras
Por todo o teu pescoço desnudo
Minha tormenta é não mais tocar tudo que amo
Aprender a desamar
Tudo que amo