Fortaleza-Ceará



Dias
e
Noites

 
O gosto pela vida independe das circunstâncias. Eu gosto dos dois lados da moeda... Porque olhar apenas o lado triste e feio das coisas... Porque assistir o Noticiário local, impressionar-se com as manchetes nos jornais e fechar-se dentro de quatro paredes, se o fato de existir por si só já é um risco. Isso vale para todos os medos, é preciso ousar, é preciso recuar, mas nunca desistir e em tudo colocar paixão. Esta é a cidade onde eu nasci e vivo, é um lugar cheio de perigos, mas também de encantos, ela sabe de mim, conhece os meus passos, intentos e desencantos. Assistiu o começo do começo da minha solidão na infância, viu os meus mais antigos loucos sonhos de adolescente, chorou com os meus tombos e sorriu cada vez que eu me me levantei. Conhece a minha origem humilde, sabe da minha luta. Sabe que uma vida não se constrói em um dia.

Minha Fortaleza... Que me viu muitas vezes tão fraca, frágil. Assistiu cada consquista minha diante dos desafios. Recebeu os primeiros passos dos meus três filhos, depois os meus três netos, os recebeu também de braços abertos. Assistiu e assiste a nossa luta. É como se dela a minha vida fizesse parte, já fazendo. Ela é um presente maravilhoso, me acolhe em suas ruas, quando estou muito triste e sozinha! Divide comigo as pessoas, o seu sol, o vento que vem de outros ares, banha-me com a sua lua, divide cada amanhecer. Ouve os meus risos e sabe dos meus desalentos. Para mim ela é aconchegante, recebe todos os visitantes do mais nobre aos mais pobres retirantes. A minha alma se sente abraçada, assim pela brisa e por suas ruas que conheço tão bem, os mercados, às suas praias. E uma felicidade que só eu sei de onde vem.

Hoje já não podemos mais colocar cadeiras nas calçadas para um bate papo com os vizinhos no final do dia, isto é fato, ainda assim nela há algo de lírico, há magia. No olhar das pessoas há alegria! Eu gosto de sair, saio à observar as diferenças, os gostos, alguns tão provincianos, na simplicidade das mulheres com seus vestidos de Chita. Olho a arrogância de outras, daquelas que se acham donas do mundo. Todos são filhos de Deus, só querem ser felizes. Cada ponto desta cidade inteira tem um pedaço de mim.  O mundo tão imenso talvez não nos pertença, não tanto quanto gostaríamos. Podemos ir e vir, apreciar, podemos deixar por aí um pedacinho de nós em cada lugar por onde passarmos, ou podemos trazer em nossas lembranças e guardarmos para sempre só os rastros em nossos pensamentos, mas fica tudo lá. A nossa cidade é o que temos de nosso, sem possessividade. Decorei em minha alma, cada cantinho de ti Fortaleza, dentro de mim. Amo esta cidade, que parece um coração cheio de segredos sem fim. Amo... Nos dias e nas noites, nas marés e os seus açoites. Amo a minha Fortaleza, em cada por do sol que eu absorvo, ela faz parte da minha história, nela, sinto-me em minha própria casa.
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Liduina do Nascimento
Enviado por Liduina do Nascimento em 12/01/2015
Reeditado em 14/02/2015
Código do texto: T5099550
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