Da Escassez da Chuva e dos Pássaros Noturnos
Tentei chover na madrugada
mas fez-se manto estrelado,
mas fez-se noite enluarada,
fez-se o poema enclausurado;
mas revoou um curiango
lá na torre do campanário
e, o galo cantou anunciando
o repontar que ia alvorando.
Tentei chover na madrugada
pois a soalheira era insuportável,
tanto calor que fervilhou
meu pensamento inenarrável;
mas revoou uma coruja
e transbordou o seu piado
a duetar com o bacurau
com seu estribilhar sagrado.
Tentei chover na madrugada
mas, fez-se letras e poesia
mas, fez-se doce a melodia,
fez-se um poeta amodorrado;
e o céu gritou a escuridão
antes do ressurgir da aurora,
compus então essa canção
ao meu amor que acorda agora.