Inventário
Fale de mim o que quiseres
Não retrucarei, não direi ofensas.
Fale dos meus defeitos,
Das minhas contradições,
Fale que pareço criança, que sou moleque;
Prometo que não retrucarei.
Fale, se quiser, que sou um sonhador,
Que acredito na solidariedade humana,
Fale que minha poesia é tosca,
Que meus ensaios são vazios,
Que guardo livros como diamantes;
Prometo, eu ouvirei calado.
Se falar que meu ateísmo é velho e superado,
Ouvirei com toda a paciência budista;
Prometo, não ouvirás uma sílaba minha.
Fale, se achar necessário,
Que preso mais os amigos mais que a mim mesmo,
Talvez verá um leve sorriso meu,
Mas mesmo assim, só verá isso; não abrirei a boca.
Se, ainda, achar fundamental falar que pareço criança,
Que minhas ideias são infantis,
Que admirar o beija-flor beijando a flor, não é nada;
Prometo, ficarei tão calado, que ouvirás o som do silêncio.
Então, fale de mim o que quiseres,
Não retrucarei; saberei que me conheces
E que por ser seu amigo já me faz feliz.