Cores da madrugada

“Há anos que não vejo o romper do sol,

que não lavo os olhos nas cores da madrugada”

(Manuel Bandeira. In Antologia Poética. Editora Global, 2013)

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No horizonte a madrugada derramava

lágrimas vermelhas,

tudo era fogo e mar

E o mar trazia a manhã para a areia

Molhava meus pés

Apagava meus passos

Deixava o sal na minha pele

Apagava a fogueira incendiada de segredos

Apagava as estrelas bordadas de azuis

Levava o castelo que eu erguia

com sonhos da minha infância

Levava as palavras

que eu escrevia na areia para você

Arrastava e esquecia a meus pés

as conchinhas e o afeto do contato

e o poema contido

no murmúrio sussurrado em cada concha

que me faziam lembrar de você

E neste momento tudo parava

A flor no botão

A brisa no ar

O verde no mar

A vaga eriçada pelo vento

Meus sonhos de então

Tudo parava

A madrugada

O grito cansado

A ternura de uma mão

em outra mão

O espanto

Duas notas de uma canção melodiosa

e pungente

O tempo: desafio e equívoco

A lua oblonga e torta,

ainda no céu,

ainda bonita

E antes que o sol

se desatasse de vez da madrugada

lavava os meus olhos

nas cores da madrugada

assim como quem

não quer mais nada

assim como se tudo fosse

só o caminho e a jornada