Caneta

Minha caneta não me obedece, moço

Tento escrever coisas sérias

Mas minha caneta se recusa

A sujeita tem vontade própria, moço

Não adianta insistir

Se eu quiser falar de política ela vai sorrir

Outro dia, moço

Até quis focar nos problemas do mundo

Segurei-a bem forte pelo calcanhar e bradei:

"- Falaremos das coisas da vida ou estás despedida!"

Ela me encarou

Segurou meu rosto e disse:

"- Me obrigue!"

Depois me deu uns sopapos.

Deste dia pra cá, moço

Sou eu é que obedeço

E só escrevo o que ela quer

O que ela sente

O que ela pensa.

Sou instrumento dela

E assim sigo sem reclamar de nada.