Deixa que eu te diga

Silêncio amoroso 1

Deixa que eu te ame em silêncio.

Não pergunte, não se explique, deixe

que nossas línguas se toquem, e as bocas

e a pele

falem seus líquidos desejos.

Deixa que eu te ame sem palavras

a não ser aquelas que na lembrança ficarão

pulsando para sempre

como se amor e vida

fossem um discurso

de impronunciáveis emoções.

Affonso Romano de Sant'Anna.

In Intervalo amoroso & Outros poemas escolhidos.

L&PM Pocket, 2005.

**********************************************************

Deixa que eu te diga

Que quando amanhece

Ainda te amo

Te amo quando anoitece

E no desvão das nossas mãos

Te amo

Te amo

Na palavra que ainda não sei

Te amo tanto e quando

Te amei

Te amarei

Deixa que eu te ame na semiluz

Desenhada nos teus olhos,

Na negra noite dos teus olhos

Onde meus olhos mergulham

E emergem

Lentamente

Te amando

Quietos

E sós

Como o verso do poema

Que termina

Antes que a palavra ou o gesto

Possam dizer o quanto te amo

E deste amor eternas sejam

As folhas onde me ergo

Sobre a neblina perfumada do domingo

E no caminho apascentado pelo roçar

Do meu amor na tua blusa branca,

Pegarei na tua mão

E, então,

O amor se dirá

Imperfeito?

Possa ser,

Mas nenhum amor é mais bonito

Que este amor

Silencioso e terno que te dedico