DECLARAÇÃO
quero ser o homem radiante de Tamayo
e não apenas um estudo amargurado
que me caiam água, chuva, luz e raio
e se sair ferido que seja pelo menos abençoado
mas não me venha tentar pendurar na parede
porque sou obra livre e circulo para que me vejam
não sou o vinho raro que sacas para aplacar tua egoística sede
sou o santo rachado que as velhinhas tocam e as crianças beijam
não, não vou a leilão
não me troco por qualquer cifrão
se me pedes a mão
digo que não...
quero ser o concreto de Haroldo de Campos
vá de retro o parnasiano mofado numa boca morta!
que me venha o cólera, a espanhola e o sarampo
se eu sair vivo que seja pela janela e não pela porta
e jamais tente me conter num volume qualquer
pois sou a letra solta que xinga poemas e declama palavrões
não sou o cãozinho mansinho que chamas de Baudelaire
sou a fera faminta que devora cetáceos e amansa dragões