POEMAS ESPARSOS E REPASSADOS

1ª PARTE – NATUREZA

“Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produz em nós.” (Manoel de Barros)

SUSPIRO PELA ÁRVORE

A árvore, filho meu, tem verde alma!

Ela doa-nos abrigo, nutrição...

Semente sua e brotos vêm da lama:

O fruto, sim! E não, desnutrição!

Esta Voz diz: - Zaqueu sobre sem calma,

Veja, ausculta Cristo do Jordão?

É passagem de Deus em cada palma,

E Jesus pede: - Desça, dou Perdão!

À sombra, contemplaram o que lembra

O futuro em hinos – Deus relembra;

Plantas na Terra: mar de verdes velas...

As árvores não são contra suas gentes:

Para as florestas, todos são viventes.

Vêm logo, filhos meus, à sombra delas!

FLOR

Um dia foi semente.

Cada árvore tem flor diferente.

Algumas dobram as pétalas,

Ou são simples.

Nem Salomão

Se vestia igual

A humilde

Flor do campo

frágil...

Pelas trilhas,

Sonda entre

Os matos,

E veja

Vários tipos de florezinhas.

A vida é uma flor

No jardim do universo.

O universo é outra flor

Na imensidão do espaço.

E as árvores e plantinhas

Se vestem diária,

Outras anualmente.

Elas não se preocupam

Com o espetáculo.

Já são demais!

E as abelhas as visitam

Levando além o pólen

E o mel rendendo.

FLOR DE MAIO

O orvalho é úmido

gotejo sobre estas

Princesas cujos

Brincos brincam

Na serena noite.

O sol logo aparece

E maio

Revela o seu lindo

Manto de flores

No jardim.

Bailarinas e brancas

Pétalas exibem

Sua graça;

Outras são o tinto rubro na taça

E dentro do meu olho

Ficam à tarde, na sombra,

As flores de maio.

MAIO

A pura imagem

Da Mãe de Deus

Serena na sala

Entrou

E o lar ajoelhou.

E uma prece veio

E a canção de maio,

entoaram

O altar simples, cheio de flores

E houve a linda coroação.

E sinos e hinos

Ecoaram

A Virgem de Maio

Nas noites agrestes do sertão.

RAÍZES DAS ÁRVORES

Sou como a árvore

Gosto das raízes

Da minha cultura!

Cultivo a vida;

Cultivo minha vida

Como plantinhas da floresta.

A floresta é o mundo todo

E eu sou parte dele.

Broto como a semente,

Lanço meus desejos como raízes.

Cresço meu ser e meu corpo

Como haste da plantinha.

Olho o céu e desço a Terra!

E as fases e frases da vida

São tempos e templos de um sabor

Gostoso de existir, ser tempo da árvore

Que se arvore em teimar dar flores, frutos...

Aposta na presença de bichos, aves e morcegos,

Tudo, até o vento, a chuva, disseminam a semente.

E ela vai de repente, além de mim, de geração à geração

Até onde Deus quiser e a vida puder germinar, engendrar,

Sem gelar suas raízes.

ENVELHECER

Não é sinônimo de morrer.

Tem gente que morre sem ser idoso.

E a velhice é um fruto mais maduro

Que teima resistir ao tempo.

Nem todos são assim.

Cada um tem seu tempo...

Qual é o meu?

Ainda não sei; porque preciso de viver.

AS SEMENTES

Poder ser em algum lugar: potencialidade e embrião.

Morrer para deixar libertar a vida no chão, além da gaveta

E as prateleiras dos armazéns.

E, tem que te coragem, de deixar-se cair, sair de si, ir morrendo

À medida que se vive vivendo.

A TERRA

É a nossa condição de existências,

Nunca sozinha: implica ar, água, solo, composição, decomposição.

E terra varia de cada lugar e tempo.

Nem tudo é igual: nem todas as terras são iguais.

A semente tenta se adaptar ou fenece e seca.

A água da semente bebe a água da terra.

A porosidade da semente reconhece a via da água

E os caminhos da água percorrem a terra

ao encontro

Da solidez da casca e maciez do embrião...

Esse químico concreto da semente

É o laboratório da vida silente e ativada

Pela água na terra e da Terra vem a força da semente

Levando o seu embrião.

LAPSUS

Com os outros e a sós,

Pode acontecer.

Um trauma, um acidente,

Um susto, um momento

De repente

O pensar não conclui

Sua lógica e vem uma

Sensação de desconforto,

Frustração, sensação de

Falta de controle.

Inconsciente momento

De incompreensão.

Surpreendente dificuldade

De dizer-se em uma situação.

Esquecimento de uma lembrança...

Uma carência que indica

Incompletude, impotência, limitação.

Fértil provocação

Para despertar curiosidade

ou fugir

De um desafio.

Um branco diante da avaliação;

Insegurança, falta de estudo...

Iria dizer e mudou de assunto,

E não sabe o que falar agora.

Lacuna a ser

Transformada em ideia.

Laguna

A ser preenchida

De água.

Falha a ser preenchida

Pela construção.

Vazio a ser

Superado pela emoção.

A FORMA

Cada semente é um corpo, corpus, córpora

Que incorpora a vida

como uma caixa [fôrma]

em forma e informa o seu conteúdo.

O conteúdo rola

e se transforma graça à forma

Como a semente leva a vida dentro de si.

Como a mãe leva a criança

No útero;

A semente-mãe leva sua criança-embrião

Dentro de si; por isso, é forma de vida

e semente de vida, querendo a vida,

aquecendo a vida, equilíbrio escuro-claro,

tensão morte e vida, calor-frio, dentro-fora.. .

2ª PARTE – MEDITAÇÕES DA VIDA

CEMITÉRIOS

Semi-etérios

Sempre eternos

Sem ternos

Sem termos e sem gavetas no caixão.

Sem termos esperado...

Tanto tempo ou sem tempo

Cem mistérios

Com ternos cantos

Com tristes cânticos

Com a solidão do túmulo... uma cidade na cidade.

Com uma paisagem típica de cruzes, flores, santos, velas, ventos...

Vozes em portal – silenciosas de painéis, de suspiros, de oração...

Ponto final ou reticências: a morte não é ultimato e a eternidade é um portal.

SILÊNCIO DIVINO

“Deus falar de mim. Isso seria um passo na direção do silêncio...” (In: O inominável, de Samuel Becket)

É prudência e não omissão

Ninguém pode culpa Deus de tendencioso

De esconder segredos

De privilegiar alguns

De ser cúmplice com alguns

Os homens têm encontro marcado

Com seu Filho agora e não precisa agenda

O celular toca o coração e não precisa de crédito

Os créditos foram pagos a seu favor

Basta a linha direta: o silêncio se fez grito em Jesus

Jesus é a mensagem eterna do silêncio de Deus.

ANELOS NELAS – 06/06/13

Elos anseias

E o suave respirar

Sonhas segredos

No luar

No sol

No mar

No seu quarto

Na capela

Na barriga da mãe

Na gestação do mundo

No parto do novo homem.

E nelas

Argutos seios

Cheios de anseios

A espraiar anelos

Nas casas

Nas ruas

Nos ônibus

No parque

No zoológico

Nas salas de aula

Na colina

Nos shoppings

E, no futuro,

Nas naves de Júpiter

A espera de Vênus

Seja de Adônis ou de um Vulcano

Seja de Deus e de órbitas aqui e, sideralmente, possíveis

Em naves anti-solares e plataformas lunares...

NOTÍVARO

Motimaré

Motilunar

Motiva nova estação.

Um voo flui gratuito

Um sono sonho

Um sonho sono

Uma viagem interior de imagens

Noctívaro

Vagando à noite: sem pressa e sem rumo

Vagando na vida: sem destino e sem saber.

ENTRE DESERTOS E OÁSIS

Vento sul no Minarete

A mesquita ecoa uma prece

Do muezim.

E o coração suspira a Alá

O todo poderoso!

Misericórdia na minha miséria

Aumenta minha fé e abre o paraíso

Cessa a guerra e morte

O mundo ficou deserto de amor

O inferno de armas e ódio tem fim.

A paisagem, entre ruínas, há gente boa!

Paredes furadas e prédios queimados,

Mas, entre mortes e dores, existe coragem

De ajudar o outro; um encontro entre todos

Independente de serem fieis ou não.

Somos todos filhos de Alá: todos mortais...

Dê a todos a fortaleza

Com a pureza

Com o bem;

Tem piedade do pecador

E na tentação, sustenta o coração

Como santuário da paz.

Reine a Paz em todo lugar.

Amém.

CHUVA

Sol forte, suor e sem lugar...

Suspiros, preces ao céu...

Nas cruzes do serrado: as pedras

Dos pedidos e pedintes

E uma nuvenzinha despistada,

Despretensiosamente branca

E outras, a chuva vem cair.

Cai uma gota tímida,

Vento leva a chuva...

E outro dia, tudo de novo...

E gota a gota

Em melodia cantiga

E de noite, evoca um ritmo nas calhas e no chão:

Uma cantiga de ninar.

E nos meus ouvidos

Tem uma linguagem infantil

Que acalma e faz dormir

Estrelas cedem às nuvens escuras

A chuva cai torrencialmente

Como meteoros cristalinos de granizo

Cintila em cor de desejo de afrescos

E dormita meu cão, meu gato, o corvo,

O mato inclina; a floresta umidifica...

Os pássaros dormem; os bichos acordam...

E o jovem mancebo dorme ao lado da amada.

DIEZA

Abra a janela,

Veja o lindo dia

Que o espera.

Um dia belo: dieza.

Poesia pura,

Meigo olhar,

Canção no rádio,

E o cheiro de café

Novo,

Quente,

Chega

E respiro com força

Com a alegria

Que mereço.

ENTARDECER

À tarde, era tarde.

O sol vinha e agora ia:

A luz conclui seu trajeto, seu trabalho.

Se o dia declina, a noite inclina seu manto:

“ o Eteno resplandece

no coração de toda criatura.”

E a sua luz me extasia;

E, no fim de mais um dia,

Eu, então, sorria!

ABSURDO NÃO, SIM AO ABSOLUTO! 13/10/10

Moves acima de tudo

Como impossível!

E abaixo de tudo

Como o possível!

Não sou herói,

Nem um olimpiano.

Vivo no anonimato,

Como um aprendiz

Da vida e da morte.

Ouço o regato e vejo as estrelas.

A culpa não é delas.

Tanta maldade e erros...

E aposto ainda nos acertos.

Na morte, enfim partirei

Como um homem mortal

Um homem interiormente sideral.

POR FAVOR, QUERO UM SEGURO ESPIRITUAL

Fui à esquina

Aparei hoje alguns ângulos e quinas

Não joguei na guina

Pois não sou de sorte na loteria.

Nem acredito em ser rico.

Passo em frente ao circo, ao cine,

Ao cemitério, sigo em diante com meu cotidiano

O orgulho fala alto, abafo a minha voz

E de fado em fato

Percorro meu itinerante retrato.

Ao mercado central, entro, tomo meu café

Como meu pão de queijo.

Calo um instante no meio do burburinho

Do dia e as vozes cruzam o ar

E à noite, entro na Igreja

Oro e peço a Deus uma oportunidade

Sem entender as que tive...

E o anjo me propõe um seguro espiritual.

Vejo Jerusalém eterna depois deste vale

E um porto seguro na Mansão eternal.

E meu anjo pergunta:

- Já fizeste teu

Seguro espiritual?

O cão e o homem

Vejo em cada lugar

Como Ulisses

Retornando ao lar,

Outros Argos, um cão exemplar,

Um cão fiel;

Uma dádiva:

Só quem tem um

Pode entender...

READING COMPREHENSION

São alguns passos

e algumas entrevistas:

Aconselharam-me

Serenidade, objetividade,

Confiança, técnicas, eficiência...

Terno, suor, banca de examinadores

Minha voz ecoa só na sala.

O resultado?

Vejamos: depende!

Esqueci o pendrive! Que estranho!

Menos pontos.

O concorrente passa à minha frente...

Não era para mim, a vaga vaga vagando...

Depende de quem viu

Depende de mim

Depende da vaga

Depende de critérios

Depende de sorte

Depende de um plano superior:

Nada acontece

Sem que haja um Outro...

Tente outra vez!

“Uma folha da árvore

Não cai sem a vontade divina.”

3ª PARTE

ENTRE LINHAS MACHADIANAS

Segundo Cláudio César Montolo, ao citar Henrique Romano:“Aos vassalos feudais se ofereciam nabos e aos senhores tinham pratos variados. E judeus e mulçumanos haviam vivido idade de ouro na Península ibérica.” (MONTOLO, apud ROMANOS, 2004, p. 433)

Ao vencedor, batatas...

A ironia via os nobres sem poder

Na revolução francesa

A comer batatas

Comida de pobres.

E os pobres com raiva

Dos burgueses, então,

Gritaram:

-Vai às batatas, às favas...

Comida de porcos.

E o tempo passou:

Como é gostosa uma batatinha

Frita. Não exagere para engordar.

HUMANITISMO

“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.”

Machado de Assis ASSIS, M. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Typografia. Nacional, 1881.

O homem é a medida de tudo?

Sem ser medida de nada?

Uma medida estranha

E triste: orbe et urbe.

Morre por um triz

Perde-se em contradições

Gera morte quando quer viver.

Pode elevar-se nas alturas

Com seu pensar e aviões

Não tem controle total

De suas emoções e invenções.

Sofrem com ele, os bichos;

Dentre os vivos, é o pior.

É o melhor se for ético

Quando admite ser a vida

Uma medida sem medida.

Viver não é exato! Ó ignatus!

4ª PARTES - ALEATÓRIAS

“O JUSTO VIVA DA FÉ”

“É terrível e triste não ter fé! Até que eu queria...” Rachel de Queirós.

Ninguém é justo a seus olhos.

O justo morreu por nós

Quando erramos pecadores.

E o homem de bem ainda erra

Ao dia sem perceber.

Nosso julgar é limitado

Como é limitada

Nossa ciência.

E a fé se faz presença

Nas contradições.

Alguns gostariam de ter,

Mas alguns acham infantil.

Deus não é papai Noel.

SAGA CIVILIZATÓRIA

"Pobre cega, porque choram tanto assim estes teus olhos?

Não, os meus olhos não choram

são as lágrimas que choram

Com saudade dos meus olhos." Alvaro Moreyra, jornalista, poeta e teatrólogo.

Que ironia:

Sangra sulcos na cultura

Congela uma escultura

Alguns engordam

Enquanto outros se desatinam.

Príncipes sobem e descem

E o povo enluta e empobrece.

Discursos vazios e corações arrepiam,

O metal vil corrompeu muitos.

Os pequenos são encurralados.

Jovens envelhecem precocemente

Porque o sistema está pobre de ricos,

O povo está pobre de tudo.

NÃO SOU PERFEITO

Agimos como se fôssemos

Perfeitos; como gostaríamos de ser.

Caminhamos e tropeçamos em nós,

nossos defeitos pequenos...

Os grandes, escondemos.

E sabemos que cheiramos mal.

E o homem não é flor que se cheire.

DESLOCADO

Ouço o sabiá a cantar suave e forte

Melodia, na manhã fria.

E à tarde, são carros e vozeria no calçadão

Deslizando pela cidade.

Sem poder, sem dinheiro...

Talvez parece que tudo está errado.

E o sistema o obriga a ser gado.

E a ir como massa

E a ter uma opção no corredor.

Aquele se reconhece com suas medalhas.

Este com sua conta bancária.

DIALÉTICA

Somos pó pensante

Somos caniço agitado

Somos ente errante

Somos potencialmente capaz

Duvidamos de nossa capacidade

Arremessamos pedra no lago

E ponderamos cada passo

Vivemos entre um passo do éden

Três passos atrás de nossa insegurança

Olhamos no espelho com receio

De descobrir quem somos

E olhamos a estrela com a esperança

De nos sentir pequenos e integrados

Ao universo inteiro

Corremos para o interior

Como quem foge do fogo exterior

Criticamos o corrupto

E temos dificuldade de ver nosso salvo-conduto.

UM PROCESSO À FRENTE

“Saiba: todo mundo foi neném/ (...) Todo mundo teve infância/ Maomé já foi criança/ Arquimedes, Buda, Galileu/ E também você e eu/ (...) Todo mundo teve pai/ (...) teve mãe...” Arnaldo Antunes

Quando temos um filho

Ele se mira em nós.

Nós nos miramos nele.

Confiantes de que ele siga

Como diferente

colocamo-nos ora à frente,

Ora do lado,

Ora mais distante.

E vem a alegria de vê-lo crescer,

Ser, surgir como é,

Deixar que ele caminhe com suas diferenças

Na certeza de que ser feliz é um lance

A mais na existência da vontade,

Da liberdade e da necessidade.

Um ano a mais,

Ele se parece com a gente,

Ele se distancia da gente,

Ele se faz ele mesmo,

Crescendo, avançando, vivendo...

VOLÁTEIS MEMÓRIAS

“Ciranda Cirandinha

Vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta

Volta e meia vamos dar” Cantiga popular

Do arquivo do mundo,

Do olhar sobre o cosmo,

Do respirar sonhos,

Caçar pipas e empinar coragem,

Vivo de minhas previsões,

Debruço ou escondo minhas memórias.

Tentei, tensionei, tremi, posicionei...

Como pássaro no nicho ou no ar:

Viajei, vi, vim...

As vezes, venci, outras perdi

A mim e a você

Nas cordas do pensar,

Amei, armei, andei

Nos labirintos da emoção,

Logicalizei, localizei, locomarquei

Ri, rimei, chorei, meditei, orei...

Meu território ao seu lado,

E veio o trabalho, trânsito da vida,

Cansei, descansei, retomei meu caminho,

Com você e sozinho, até onde pude.

Há realidades que somente

A gente pode fazer.

Há outras que os outros

Podem comprometer.

Outros, poucos, podem

nos ajudar.

Somos uma rede virtual e social

com os outros.

PERSISTÊNCIA

“Eu hoje estou tão triste

Eu precisava tanto

Conversar com Deus

Falar dos meus problemas

Também lhe confessar

Tantos segredos meus!” Antônio Marcos

Insistir no bem faz bem

No mal, faz mal.

Não se arqueje

Diante da vida.

Não se lamente

Pelo leite derramado

Mas alavanque

O seu projeto.

Respire fundo

Sonhe acordado

Navegue nas asas

Da liberdade

Vencendo seus limites

Mas respeitando seus contornos

Não é ruim ter medo

Ele pode ser pedagógico

Mas só o amor é terapêutico

Repouse na aurora da graça

Descanse no ocaso da noite

Seja Deus sua eterna companhia.

Remoce em cada dia

Porque só podes viver por ti,

E pode ajudar o outro em seu peso.

Lampeje vontade de viver

Sorrias na aventura da vida

Importa viver a cada dia.

ATRATIVIDADE

A alada formiga

Encontrei aberta

a janela

e na água da panela caiu,

Como Ismália somos

Ao duplo luar

Vimos uma Lua no céu;

Outra no mar.

E saímos nadando

Vencendo a nos mesmos

Vencendo nossos determinismos.

E a torre é a vida

Uma ascensão entre os dois mundos

Uma ponte entre a mente e o coração

Um portal entre o homem e Deus.

Não percamos as asas da imaginação

E a fé nas horas agruras da existência.

ESPECIAL, EU SOU!

As flores são diferentes

ser diferente não é ruim.

Não dá para ser tudo igual.

Não somos feitos robôs,

Nem em série.

Os colibris são todos iguais?

Os bichos, vejam!

Os humanos desconfiam,

O diferente não é doente.

Se for doente, é gente.

Como você, tenho desejo e sonhos.

Como você, temo e fico com sono.

Temos alma e coração. Emoção!

E se fosse eu seu irmão, seu filho,

Seu marido, sua mulher, seu bebê?

Seria tão mal assim?

Sou assim para você me amar.

E Deus ama a todos e a cada um como é.

OVÍCULOS EM FOLHAS

São lindos juntinhos

Como minúsculos pontos verdes

Na folha.

E o Lucas brincava

E se encantou com eles.

A mãe insecta

Saiu por aí

E deixou aqui

Os ovos grudados na folha seca.

A vida não quer secar.

AVE, SUAVE ALEGRIA

“Ave sempre bela, Virgem Mãe de Deus!

Do alto mar estrela, porta azul dos céus.

Novas o anjo traz: “Ave” te saúda.

Funda-nos na paz, de Eva nome muda.” CANTO LITÚRGICO MARIANO

E a menina ao templo

Veio

A vida no tempo

Veio

E disse sim

Quando o mundo diz não

À vida.

E Jesus brincou de gente

E a gente brincou de deus com Deus.

Mansidão, vida pura, consolação,

Fim da escravidão, almas ao céu

Se elevam

Porque os cânticos divinos

Ecoam por todo o planeta.

A escada de Jacó

Novamente se mostrou

Porque Deus desceu

Enquanto o homem subiu.

CULTURA

Agricultura: plantação de espécimes

Cultura: orgânica complexa de gentes

Cultivo de nações, etnias, tribos, costumes

Cultivo de relacionamentos e mercados

Intercâmbios de pessoas de todas as latitudes

Patrimônio cultural e línguas diferentes

Gente autóctone e deslocada

Hibridismos e ecótipos de várias longitudes.

HOMEM

Versatilis homo erectus est

Ergueram mitos e sagas

Ele se confundiu com vultos épicos

Narciso, Prometeu, Sísifo

São facetas de sua persona.

Perolando galeras

Percorrendo o globo

Peripateando Atenas como Sócrates

Evangelizando Jesus na Palestina.

Vagando o oriente como Marco Polo.

Observando os astros como Galileu...

Eia espécie carente e paradoxal,

Que aprendeu a nova linguagem

“Animal que fala”, ri, chora e canta.

Domina tudo e Espanha lixo

E dos vivos é o ser mais intrigante.

Os ventos chegam e os homens

Arrastam fome, seca e corrupção.

E capaz de viajar à lua

E tem dificuldade de aceitar o outro

Na terra.

Gasta milhões com a guerra,

É solitário entre as gentes

É solidário com as gentes.

PATÍBULO

Do erro alheio, temos olhos de lince. Arrogância em poros, tenho. Liberte-me de minha culpidez e estupidez.

Turíbulo perfumado

À cruz santa.

E Jesus suplica ao Pai

Entre ladrões.

Gritam impropérios

E os soldados do império

O pregam entre cravos

São suas divinas chagas

Por nós, pecadores,

Filhos e filhas de Eva,

Geme o Filho do Altíssimo

Nesse vale de lágrimas.

No meio de tantas dores

E maldades; sente a ofensa.

E responde com bondade

Contempla o Pai

Com sua cruz planta

A misericórdia – cumpre as profecias

E não adia a promessa:

Ergue ao Amor

Um grito de entrega

No alto do patíbulo.

MINHA VIDA

Eu gosto de minha vida

Eu cruzo o quarteirão

E vejo a você

Eu não conheço sua pessoa

Mas, você é parte

Da minha cidade

Do meu campo

Com você, eu oiço

O palpitar do caminho

Sem você,

Há menos vida

E os meus amigos

Aquecem o inverno da vida.

MY LIFE

I like my life

E cross the square

And I look at you

I do not know you

But you are part

Of this city

With you, I hear

The beating of the way

Without you,

There is darkness and anxiety here.

I am not like me

I am me

I am solicitude

Whose absence

You can dare heat up

My winter.

SOBRIEDADE

Liberte-me da minha prisão interior. Ajude-me a viver. Livra-me de envelhecer precoce. Apodrecer em mim.

Achei que o álcool era meu amigo.

Ele, ao fundo do povo, me derrubou.

E a minha vida há muito desabou.

E o desvão da embriaguez foi comigo.

Um dia, aos Alcoólicos Anônimos fui.

Depois de muito sofrer e padecer,

Decidi meu presente restabelecer:

E nos doze passos que a vida constitui.

Sóbrio, “cada dia basta seu peso”!

Sereno, devagar, vai-se ao longe.

Sábio, o equilíbrio me mantém aceso.

A Deus, elevo uma prece!

Quando a dependência ruge:

Teço uma nova chance.

METANOIA

O coração muda de direção e ama a vida. Aprende a gostar de quem gosta da gente.

Vou-me embora para Felícia

Os anos aqui são expectativa

Lá a vida será delícia

Como gosto de sonhar!

Como gosto de viver!

A vida vale muito mais

É preciso torcer

Para cada vez sentir os ais

E, no fim, de cada dia

Quando a noite chegar

Elevo os olhos ao céu!

Rezo para perdoar.

Suplico ao coração: ria

E o dia vem qual véu.

MUITO E UM SÓ – 10/11/08

Sou muitos eu e um só

Que outros podem inventar

Quando me vêem antes do pó

Ou se demoram nos olhos entrar.

Percorri caminho vário até aqui

E senti o cheiro estranho da vida

Passei sítios e lugares daqui

E acolá para buscar saída.

Máscaras caíram não estavam coladas

A dor lá dentro me inquietava

Pois queria ser eu mesmo.

Mas, aprendi a viver as dores aladas

Da alma, grande projetada

Sobre e sob projetos em quiasmo.

Ó SABIÁ

Como cantas!

Sinto introspectivo

Ao Ouvir sua melodia.

Lamento que tu desapareças

Se o verde acabar.

E o teu cantar

Faz falta

De verdade.

E o teu cantar

Faz voltar

O jardim do Éden.

Paro, fecho os olhos

Só para te ouvir

E sentir

O coração palpitar

E a mente navegar

Para outro mar

Que este aqui

É selva de egoísmos

E mata como uma funda

Meu ser com a pedra da ingratidão.

E teu cantar faz a via encantar

Tua cantiga que mendigo

É vital para o meu voo da alma,

É o som que embala o menino interior

CARRO DE BOI

Pelas invernadas

Uma cantiga marota

Para uns dá saudade

De tanta lembrança

Do sertão;

De outros,

Vem alegria

Que mexe com o coração:

A peleja da roça

E os irmãos com as novidades

Lá da cidade.

Mas, esse tempo

Parece ter ido.

Agora viajo

Pelo mundo

Do interior

E não vejo mais

Os bois e seu carro.

Apenas, fecho os olhos

E a mente vê

O movimento

De juntas de boi

E o velho carro de boi.

ROÇA

Horta cheia de lindas

E velhas árvores

Do lado da cerca,

O curral,

Ao fundo,

O quintal e o jardim.

Mangas e laranjas

Amarelam

Com a força do sol.

As águas do riacho

Cantam frescas

E limpas.

E vem em canais

Até a horta

Para couves, cebolas,

Bananeiras e pomar.

BRASÍLIA

Um sonho se fez realidade.

Dom Bosco

Anteviu

No cerrado goiano,

No 15º de latitude sul,

Uma nova cidade.

E o tempo

Passou.

JK o sonho

realizou

em 21 de abril de 1961.

MINAS

São muitas, meu cabloco.

Veja o maroto, de Zé Tizil,

Levando ao ombro

Os ovos e a galinha

Para a filha

Na cidade.

Casou, mudou e

Nem lembrança deixou.

Etá, marvada cabloca!

Ontem mesmo,

Era uma menina;

Hoje é um mulherão.

Hoje, na capela,

O padre diz missa.

Leva a família

E recebe a bênção

Do Santo padroeiro.

E os Tropeiros

Leva as boiada

Pelo sertão afora;

Cozinha em fogo

Improviso

De feijão, lingüiça,

Queijo, rapadura,

Manteiga para

A quitanda lá

Na tardinha.

Não falta a rede

entre as árvores

Para o violeiro

Cantar a modinha

da rapaziada

brejeira.

Entre as forquilhas,

Dependura os vasilhames

E faz cedo na neblina do rio

O primeiro café

E o leite não falta, seu José.

No arraial, o povo coloca

No arroz o tal de salame

E o Antônio com a mulher

Faz marmita

Para os roceiros

Do Santarém.

Veja no meu embornal

O retrato da família

Os meninos estão

Crescendo

Que nem garote

Em pasto grande

E bonito de verde.

CANÁRIO

Apuro ouvidos

Firmo os olhos

Vem cantar a avezinha

Amarela

Tão belo canto

A distância se ouve

E no pomar se esconde

Entre gorjeios

Silencia a rua

Com seu delírio musical.

ALTIVOZES

Mudas vozes

Falam dentro da gente;

São idiossincrasias

Um parto de possibilidades

Em cada um.

E noite e dia

O vozerio

Se esticam

E se confunde

Com o sonho

E misturam

Com nossos desejos

De ir além de si

E entender o outro em mim.

BEM

Está ao seu alcance

E se diferencia do mal.

Bem não é só propriedade

E herança.

E toda ação boa

Que respeite o outro.

O bem é melhor

E maior que o mal.

Podemos fazer bem

Até a natureza

Evitando jogar lixo

No chão.

Fazer o bem

Não dá Ibope.

Só é feliz

Quando faz o bem!

Exótico

O estranho é visto

No espaço?

Não, na Terra

Há tanta gente

Diferente.

E há diferentes

Etnias entre nós.

São nós de uma mesma

Corda.

ABSURDO

“Eu te recriei só pro meu prazer. O nosso amor é ad eterno...”

Este amor fascinante

Me pegou de jeito

E agora eu rejeito

A realidade do não.

Deixa-me imaginar

Não é crime amar

E a paixão

Que abriu outro lugar

Não deste chão

Me fez respirar

Correr e acreditar

Quando minhas lágrimas

Secaram

Meu coração parecia parar

Minhas pernas ficaram sem fé.

Não fujas de mim,

Minha miragem,

Seja boa mensagem

Deixe-me fugir de verdade

Para o um coração que dói

E quer outra paragem.

A POESIA À PORTA

A noite

me atraiu

Como pirilampos.

E as luzes do poste

Da janela

Brilham como cristais.

Amo a hora noturna

A poesia flui toda nua

E a noite parece

Clara como um dia.

HIPNOSE SOCIAL

Chegará dia

Que a tecnologia

Dominará tudo.

E as mentes não descansarão

Pesadas sobre tela e amor virtual

Tudo parecendo real.

Com sede, os seres pairarão

Descontentes em margem alienada

Torturados por imagens fatais

E o sonho ficará debaixo do travesseiro

E o professor falará sozinho à turma;

E os créditos do celular serão mais

Valiosos que os estudos e ursos polares.

O mundo será uma grande vitrine de desejos

Os homens morrerão de sede como

Um náufrago em mar;

Os poetas e filósofos, religiosos e educadores

Serão visionários do futuro, escorraçados dos vales

Campinas, cidades e prados.

Os tecnocratas e seus seguidores serão louvados

E idolatrados nos mídias.

ETERNAS CRIANÇAS

Não deixemos de brincar

Para não ficarmos velhos

E o fruto amarelo

Logo do pé cai.

Até os animais brincam...

E amanheceu

Estou colocando

Um tijolinho

Em minha casinha

Brincando no quintal da vida

Como uma criança feliz.

Vamos brincar, agora.

Não estou com sono,

Tenho um sonho criança.

Brincar é saudável.

Gostava de desenhar

Esqueci de desenhar.

Gostava de colorir

Esqueci de colorir minha vida.

Percorro o quiliálogo

Perscruto jogos com as mãos

E vou de um extremo a outro,

O zênite e o ápice,

Meu ser está em corda bamba.

O corpo acompanha a alma,

Ambos brincam de esconde-esconde.

OLHOS

E são incríveis

Quem nunca observou uma pupila?

O buraco negro está no cosmo do olho.

O olho tem sua própria órbita!

Sairei

E verei

A flor da íris,

Os olhos têm cores em arco-íris.

São de diferentes aspectos

O espectro, o eco, o painel concêntrico

De novidades

Cujo estame sustém uma flor: o olho entre luzes!

O PODER DAS CRISES

“Ninguém banha duas vezes no mesmo Rio.”

Não é mera crise do poder.

É uma readaptação intrigante

A mente se vê tonta de possibilidades,

Receios, necessidades, outras saídas,

Há de ter tempo para a crise.

Crisol, busca de verdade.

A verdade flui aos poucos

A cada canto, claro-escuro da vida.

E cada um tem seu modo de responder

O corpo acompanha um embalar de

Estímulos, ousadias, estruturação.

São sinapses em ebulição,

Subterrâneos da decisão: optar

Vai acontecer.

Depois da tempestade,

Pode vir a bonança.

IDOLATRIA

É ganhar tanto

E não ser feliz.

É ter tanto poder

E não ser solícito.

É ter sapatos mil,

E dever todo mundo.

É ver o time perder

Na televisão,

E a fome tomando

Conta da população;

É ser indignado no salário

E o professor mal pago.

E torcer por um jogador

E ver o trabalhador humilhado.

PEDIDO UNIVERSAL

Jesus, favor me dar nesse natal

O seu coração para amar e perdoar.

Muito amor e paz

Sinto uma guerra dentro de mim

Odeio e não consigo ser feliz.

E o homem a estrela d’alva

Viu na alma

Viu a Belém

E aprendeu a amar

Voltou a ser cristão de verdade

Amém.

UM NATAL DIFERENTE

“Ainda não estamos habituados com o mundo. Nascer é muito comprido. Murilo Mendes.” Antologia de 1979.

Pedi a Jesus menino:

- Eu gostaria de um natal

De muita paz, de muito amor

Para todo mundo.

Natal de presépio

De pastores e reis magos

com a estrela de Belém.

Para todo mundo.

E Jesus respondeu:

- Amai-vos uns aos outros!

Porque só pelo amor

A Estrela de Belém

Vai voltar a brilhar.

Só é feliz quem faz o bem

E tem amor no coração.

KERIGMA

Dos mistérios divinos,

A revelação

Flui do sigma da vida.

Dos signos e letras da Bíblia,

Verba Christi – Palavra de Cristo –

Registra

O diálogo de Deus que se encarnou

Veio e morreu e ressuscitou.

O rosto materno

De Deus na face humana de Jesus

Está entre nós – é Emanuel.

No tempo exato,

Jesus age e morre, ama e vive para sempre.

QUIXOTESCO

“o coração tem razão que a razão não ousa desconfiar.” Blaise Pascal – 1670.

Eu sou Dom Quixote

Deixei a chácara e a biblioteca

Peguei esta velha armadura

E tenho sonhos futuristas

E o mascote é o meu alazão

Não tão novo.

Dulcineia é a princesa do povo

E os moinhos se agigantam

Impedindo meu sonho.

A velha lança

me alcança

Entre o céu e a terra

Que quero renovar

Rocinante

Deu seu urro de alegria

É hora da refeição;

Sancho Pança,

Esse tem bom coração.

Meu surto o mundo curte

E o romance vai além da cavalaria.

5ª PARTE – AFORISMOS

Tu errante

Que passas

Nos porões

Da humanidade.

Viajas entre

Cabines

Das caravelas.

Vais

Navegas

Como argonautas

aos mares, cuidado com as marés.

E os astronautas

Do sideral espaço. Cuidado com os cometas.

Solidão, banzo,

Estrela polar, fique fascinado com aurora boreal.

Via-láctea

Mapas e desejo

De chegar

Ao coração do

Coração.

O peixe precisa de água pura. Eu preciso de espaço e liberdade.

A alma cuja palma apalpo é macia e o coração sedento de amor.

Se descobrissem o segredo da vida. A vida não teria mistérios.

Conselho é bom. Se não houvesse, o mundo estaria pior.

Visitei um ninho de passarinho. Tive cuidado para que a passarinha não me picasse no olho.

O advogado defende o outro. Será que sabe se defender?

A escuridão é densa e nela se esconde o gato. Em lua cheia, não consigo esconder de você.

Não rias do outro, amanhã ficará frustrado se rirem de você.

Brinque respeitosamente com as pessoa simples, elas o ouvirão. Com os ricos e doutos, fale pouco.

O mundo começa comigo aqui dentro. Lá fora é o reflexo que também chamados vida.

Pensamos por analogia. A ordem é o oposto do caos. O amor é o contrário do egoísmo. Ódio é sinônimo de guerra silenciosa ou destrutiva.

O sistema determina vida e morte. Em nome deles, matamos e cultuamos tiranos. Ou acolhemos gente e miramos exemplos de heroísmo inclusivo.

Discursos são bons, muitos chatos. Não se faz o bem por decreto e discursos; é preciso ato e atitude. Amor não é sentimento, é decisão de amar.

Desejo é impulso. Amor é pulsão. Escrita é ambos.

Fazer o mal cansa e não se cansa de fazer o bem. Se preciso esforçar para o bem viver, como posso ao mal comprometer-me?

As verdades são ecos de vida. Não se explica a verdade. Vive-se! Ao explicar a verdades, as palavras ficam embargadas. Tudo fica pela metade.

A força da escuridão não pode seduzir quando a verdade brilha.

Tenha o controle de seu desejo para que não o conduza aonde não pode ir.

A esperança é a estrada desejada. Sem esperança, a vida se estagna. A gente confunde esperança com paradeza. Não é movimentação em rumo de um propósito.

Saudade é uma presença simbólica de alguém distante ou ausente. Saudade que fica no passado é saudosismo. Isso se torna negativo quando se deixa de viver o presente em direção ao futuro.

Toda obra é cultural. Não se analisa nada fora de seu contexto. A prática se faz em toda parte: na literatura, a autonomia do artista é relativa ao seu mundo e às influências culturais adquiridas sem saber e as que sabem de onde vêm.

O que se faz com amor multiplica em sabor e realização. Atitudes são um conjunto de atos de dedicação.

Nada preenche a insaciedade dos povos. Cada dia começamos de novo nossa trajetória depois de uma noite de descanso. Não importa quanto temos e quantos livros escrevemos.

Temos a vista de um ponto, por isso dizemos é um ponto de vista.

A cultura passa pela crise do sentido porque tudo é descartado pelo poder e tudo vira um espetáculo de alguns segundos. E o que dura, então?

De que nos falam os escavadores do nada, os que acreditam no futuro?

O homem criou a hora, mas é a hora que move o homem a trabalhar e levantar cedo.

Poetas robôs recitaram poemas de cor... Mas, faltar-lhes-ão emoção, risos e lágrimas. O poeta de carne e osso não pode morrer.

Meu filho, se a riqueza fosse tudo: Jesus nasceria rico. Era rico de força e se fez fraco como nós. Esvaziou-se e reinventou-se, transbordou-se de atitudes. E sua riqueza foi trocada pelo motivo do amor e da compaixão.

O CIRCO

Tenho cinco anos.

Bate meu coração:

Vou ao circo

Pela primeira vez

Com minha mãe.

E a música tocava

No alto

Da lona amarela.

Foi uma tarde

Inesquecível.

CULTURAS DIFERENTES

Maias e astecas

Subiam suas pirâmides.

Os esquimós e peles vermelhas

Contavam os entes nas estrelas.

Os índios e os selvagens

Queriam a terra sem males.

E a contagem do tempo

Variou de um povo ao outro.

O centro depende de cada cultura.

O centro é a vida é a cultura é a seta.

POR QUE MORRER?

El alma Del hombre no es uma maquina.

Lembra-te homem que tu és pó e em pó tu te tornarás. Gênesis.

Morro porque o instante existe e eu poderei não mais existir.

Morro porque deixei de sonhar e amar.

Morro porque sou contingência, finitude, finito, mortal.

Morro porque não posso prolongar a vida e a medicina ainda não venceu a morte.

Morro porque o corpo cansou, a mente parou...

Morro porque o mundo mudou tanto e não mais tenho gente de minha geração

Morro porque adoeci e não quero ficar no leito de dor.

Morro porque meu relógio biológico determinou.

Morro porque sou mortal.

Morro para comungar os outros mortais.

Morro para entender a vida como etapa.

Morro para ressuscitar um dia.

Morro porque os outros morrem.

Morro na ordem universal dos seres vivos que também tem seu fim.

Morro para ir além de mim.

Morro porque creio na vida eterna.

Morro e não escolhi morrer e nem nascer.

Morro como meus antepassados.

Morro, mas não quero morrer.

Morro e não quero morrer.

A se eu pudesse viver mais e com saúde!

O que faria se soubesse o dia de minha morte?

O que faria se soubesse que o dia de hoje fosse o último?

A constelação

Estrelas

Salpitam

O céu.

Brilham

Como únicas

E mostram

Que há distancias

Admiráveis

Entre nós.

As conjecturas e teorizações

São faíscas

Ou palpites

De cada geração.

São luzes da noite

Em cidade,

Logo desaparecerão.

E lá da serra,

Vejo estrelas nuas e cruas

E a lua enfeita a madrugada.

ESCALADA

Cada passo

E um desafio.

Cada dia

Um pão a mais.

E rumo à frente

E atrás existe uma marca

De experiência.

E não se sabe

Tudo.

Breve ou longo,

A via se faz vida.

E a flor nasce e fenece.

Mas não deixa de ser flor.

Scathon e fertidade.

Húmus e umidade.

Cada dia tem sua escalada.

Só ao cume se chega

Quem se dedica

A subir.

RONDÓ

De teu pranto, a taça jura;

E a tontura não continha

a interromper a meiga Clara.

Logo inspira os tons de Amor.

MOVIMENTO

Eu tinha esse olhar

Esse brilho dos lábios

E o passo largo de hoje.

O vento passa

E o coração sente

O frescor da água

Que correr no rosto.

E o coração feliz

Bate forte

Ao ver o amor

Mudança vem

E vão

E uma sensação

Não será em vão.

Olho ao espelho

E sinto amada.

ITES E APETITES

Silencio

desde a colônia.

Impérios de paixões

Madeirites e miltitarites

Deixaram-se dominar

Pela compulsão, desvio

E collorite, infracionites, amazonites,

Elites, poleticites e malandracites.

TORMENTA

Água em cântaros

O rio transbordou.

E levou consigo

João e Maria

Não os da historinha.

Haviam construído

O barracão

Ao lado de uma curva

Da mineração.

E não sobrou

Nada.

Apenas

A pista de um casal

Que amava.

Trabalhavam

E não tinham filhos.

AMÉRICA

Sinuosas terras

Entre Pacífico e Atlântico.

São povos caboclos

Diferentes dos europeus

E asiáticos.

Embora diferentes,

São todos latino-americanos.

PERAMBULAR

“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce...” F. Pessoa.

Mergulha nas avenidas

Da inteligência

Por viver entre nós.

Navega entre saberes

Do além e visitou no aquém.

Convertem-se emoções

E corações pela coragem do Amor,

Caminha pelos desertos

Da hipocrisia.

Entra por pântanos

Da corrupção.

Jesus, o Mestre dos mestres,

Surpreende o mundo,

Mas, rechaçado

Pelas trevas das ideologias,

Marcou a história antes e depois dele.

E deu mostras de sua elegância

Com todos; mostrou o oásis

Da compaixão.

Dele, falaram muitos,

Andou pelas multidões,

Deixando o consolo

de seus Sinais de bondade

por ser o Filho de Deus.

AI DE VÓS!

Ó Vós que

Pagais salários

Míseros

E viveis em pontes aéreas

E castelos.

Amais os orgulhosos comensais

A cata de recompensas e luxo.

Fartais, gritais, disperdiçais,

Enquanto o povo sofre,

Enquanto o jovem se perde,

Enquanto a criança morre de fome,

Enquanto as multidões

Passam por suas portas e janelas

Com sede de justiça.

Ai de vós

Outro será o vosso banquete,

Longe do Reino dos pobres.

Ficais com ricos e castiçais,

Covis de hipócritas.

ERA DOS EXTREMOS

Fim da guerra fria,

Fim da maresia,

Fim do dia,

Fim da estação lunar,

Quem dera que fosse

Outro o mundo.

Era de marfins,

Era de torres e muros de arames,

Era dos magnatas,

E povo saiu a Mahatan.

São maremotos de pessoas

Dissolvendo despejos

De uma ideologia,

Novos são os apelos

E desejos de amor e paz.

Gritam liberdade agora.

Fim da rotina,

Deixe o sonho vir ao ar.

ANTÍTESES METAFÍSICAS

“Tudo concorre para o bem daqueles que amam a deus.”

Somos efemérides

Sois etenidade.

Somos rio

Sois o mar.

Somos matéria

Sois espírito.

Somos frágeis,

Sois ágeis.

Somos voláteis

Sois eterno.

Somos pecadores,

Sois santidade.

Somos míseros,

Sois misericórdia.

Somos relativos,

Sois absoluto.

Somos obtusos e volúveis,

Sois fluidez e solidez.

Somos porosidade,

Sois poderoso.

Somos finitude,

Sois imensidão.

Somos tempo,

Sois infinito.

Nós em vós!

Vós sempre em nós.

Por nosso bem,

Esvaziastes, tornando-nos

Vossos para sempre

Para todo o bem!

INESPERADO

No fim do jogo,

A bola fez curso

Curvilíneo

Entre estreito espaço

Entre os dedos do goleiro

E as trave branca.

A bola colorida

Coloriu a rede de susto.

Do outro lado,

O grito veio rápido

No impulso entalado.

O atleta saiu da marcação

Fez uma finta, driblou

Três e chutou em ângulo

Difícil e caiu escorregando

Na grama.

O gol foi a grande sensação

Noturna.

O povo foi embora,

O estágio esvaziou,

A chuteira e a bola

Ficaram em cima do armário

Para próxima partida.

ELOQUENTE SILÊNCIO

Silence is you path.

O silêncio emudeceu

minha boca.

E ele disse coisas

que não pude dizer.

Vi na rua:

gente indo e vindo,

barriga da grávida,

vozes longe e perto,

trem na estação,

ônibus circulando

e enxadas na calçada.

O mundo move

e a semente cresce na terra.

O feto mexe no líquido,

olhos dizem apelos,

a retina registra imagens

e sigo meu caminho.

À noite, sonho:

o filme passa pelo meu caminho

como o dia transcorreu para mim.

E eu dormi e acordei.

O poema deixou o silêncio falar.

CARTOON AND IN

A paz não é negação do amor

Nem o silêncio é negação da expressão

Nem o carton é violação da liberdade.

A morte violenta de cartonistas

Ecoa na gruta do mundo

E o deserto chora

Pois ninguém consegue silenciar

Os mártires do carton aqui e lá.

ANDORINHA

Pequena e com seu terno

Que não amarrota, pia.

Voa em curvas incríveis

Atrás de insetos invisíveis.

E eu tonto de acompanhar

Seu périplo

Agora medito

Em sua elegante curva

E seu brilho de viva

Aeronave nos ares,

Ora tímida e suave,

Ora rápida e persistente.

Nas águas do rio e da lagoa,

Estar a bebicar e bibicar insetos;

No seu vai e vem,

Sempre graciosa.

ESPETÁCULO DA NATUREZA

Não é uma tormenta, nem tornado.

Não é cheia e nem tromba d’água.

Apenas uma fina e constante

Chuva do dia

Que atravessa nossa madrugada

Natalina.

Esse ano foi triste,

Rios quase secaram.

Ficaram pedras à vista.

E a Chuva chegou

Encheu o rio e passou

Tampando as pedras.

É um milagre,

Por isso fico feliz

E oro ao Céu

Agradecendo cada gotícula

Da vida e forma translúcida

A nos dadivar com uma melodia

Entre ruas e calhas,

No teto dos carros e copas das árvores,

Em ritmos incrivelmente admiráveis.

Alimentam a vida, os mares, essas gotas mágicas.

POPULAR CONTABILIDADE

Um

Zum–zum

Dois

Sois e sóis

Três

Seja quem for

Forte ou fraco

Seja camponês e urbano,

Quadro em exposição.

Quatro

Cada fato tem seu trato

Cinco

A história tem seu vinco

E as portas o trinco,

Seis,

Falo com vocês,

Nosso tempo não tem reis.

Agora é tempo de réis.

Sete

Amanhece

Ou anoitece

Há se chovesse

E o gelo não derretesse na calota polar.

E a história dos pequenos nos remete

A oito

Que oiço Ou ouço a mordida de biscoito,

Pois o voto não é brincadeira da democracia

E o povo continua pobre

Ao lado de poucos muito ricos.

Falta ainda contabilizar perdas e ganhos

Nove

Resolve encurtar a distancia entre rios e estradas

Dez

Já de dezembro

E Jesus menino veio para nos ensinar

A não ficar na estupidez

Da fome, da injustiça e da hipocrisia.

Nada de tortura e tirania.

ARCAS E EMAIL

Mudou o tempo e as luzes

O homem não é mero voyeur

Compósito e antenado

Descolado e silencioso

Deixa seus vestígios sutis

Como Luzia deixou o fóssil

Da mulher americana.

Ontem eram cartas e jornais;

E hoje a internet; não se sabe

Até quando internautará entre nós.

NOITES FÓSSEIS

“Manet delicionem mea. Ego dormio, et cor meum vigilat.”

Entre cascalhos e erosões

Veja ônix e restos de outros

Que na noite ancestral

Deixaram ficar ali.

Mar e vento se

Moldaram

E a cúmplices deixaram

Vestígios de vida

Em caverna, em litoral,

Em sambaqui.

RESILIÊNCIA

Quando não puder, tente de novo.

Quando chorar, chore com gosto.

Quando amar, faça o melhor.

Quando desempregado, não lamente.

Quando envelhece, pense que é novo.

Quando deixado de lado, é que você é especial.

Em cada não, outro sim está oculto.

Em cada dobra, há outra saliência.

Como corais milenares, resista na praia da vida.

Se a vida lhe der limão, faça uma limonada.

As abelhas são pequenas, faz excelente mel.

Nas quedas, águas são energia poderosa.

Na seca, há sapos hibernando em lama.

Vírus resistem por muitos anos.

Não é frescura fazer o bem, ser honesto, bom...

Ser elegante com a gente e os outros... faz a diferença.

Lentamente, a lesma faz seu percurso noturno do chão ao jardim.

Mergulhe e emerge dos problemas como golfinhos atrás da sardinha.

As pedras do rio são refinadas pela força da correnteza.

Não é ruim ser imperfeito, diferente, lento...

A semente fica em terra e brota quando todos dormem.

O homem pode cair várias vezes, mas aprenderá a levantar.

Quando morrer, você eternizará...

PROCURA-SE AMIGO!

Alguém disse a algum outro.

Que está disponível.

Algum outro retrucou que não.

Alguém insistiu a outro alguém

E encontrou um pouco de atenção.

Todo mundo quer um amigo.

Pode ter muitos conhecidos,

Amigo é um tesouro

Carimbado na terra da vida.

Vivo a cada dia de cada vez

E sou amigo de alguém e de algum

Que me procura.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDERSEN, Hans Christian. Contos e histórias. FNDE, 2005.249 P.

ASSIS. Machado de. Obras completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1979.

BRASIL CRISTÃO. jan. 2015.

CAMOES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. Suzano. 2003.399 p.

CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Literatura: História & texto. Saraiva, 2004.303 p.

CANÇÃO NOVA. abril. 2014.

CURY, Augusto. O mestre dos Mestres: Jesus, o maior educador da história. Sextante, 2006. 187 p.

PRIETO, Heloísa, Conversa de poeta. FNDE, Salamandra, 2003. 64 p.

ROSSI, Padre Marcelo. Ágape. Globo, 2010, 127 p.

SKAKESPEARE, W. Romeu e Julieta. FNDE, Martins Fontes,2009. 99 p.

SHAKESPEARE, William. 154 Sonetos. Comemoração aos 400 Anos. Trad. Thereza Christina Rocque da Motta, 1ª Edição 1609-2009. Editora Ibis Libris, 2009.

J B Pereira
Enviado por J B Pereira em 08/01/2015
Reeditado em 12/01/2015
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