Silêncios
Silêncios
A vida nada dizia
A cabeça encostada ao muro dormita na pedra
À espera da palavra
Esquecida, escondida, reticente
Maturando entre os sonhos carregados de ilusão
Úmida de orvalho e brotos pejados de poesia
Ei que vem o vento rodando rodamoinhos
O vento passa soprando sem pressa
Desenhando arabescos,
Propondo sortilégios de toda sorte
Deslindando algaravias
Rimando vida com morte
O vento passa sem pressa entre os cacos do dia
Desprendendo o fruto maduro que a palavra bica,
Semente que cai no chão
Que se dirá, ventura ou desdita,
Conforme venha a ser objeto da fala ou da escrita
Um grito na noite ou a trêmula miragem no dia
Não importa!!!
A palavra amadurece ao vento que a mereça
E brinca entre os meus lábios
Antes que eu possa supor o sussurrado poema sem fim
Que perora em minha cabeça
E faz cócegas e morde dentro de mim
A palavra recendendo a lírios e a benjoim
Tão linda quanto a manhã surgindo vermelho-amarelada por trás dos morros
É a palavra surgindo de trás dos véus multicores para libar sensações
Em plena floração de inverno
Apenas a palavra é mais bela do que a brisa de agosto
Apenas a palavra é fruta de tanto gosto
A palavra é iluminuras ligando a terra ao céu
O corpo à alma
O menino choroso ao adulto estupefato com a vida
Iluminuras gravadas em ouro e prata na solidão do papel
Ou na escuridão e na neblina da noite em que sonhei com você