Menina do Moçambique

Menina do Moçambique

Amiga que o Universo dá pra gente gostar

Assim, sem entendimento

Assim, como quem se encanta por um pensamento

e a voz que o recita silenciosa e ternamente

este sossego,

esta calma,

de rede balançando à tardinha,

um gosto alvo e doce de paz

Te gostar é substância,

Inconstância,

é a distância entre as noites

e as manhãs que trazem você

Você olha pra mim com olhos de sabedoria,

pássaros sem pouso,

estrelas viajando segredos

Amiga minha, não sabes quanto da minha noite é caminho

Aqui dentro tudo em desalinho

Amiga minha, não sei quanto do teu mundo escolheu ser solidão

Acho lindo o seu silêncio

A sua livre solidão de passarinho

Como sede que se bebe devagarinho

Como palavras buscando um peito para dormir,

Ou a tessitura do papel em branco,

hesitando em se fazer poesia

Há palavras antigas que dizem o teu nome

Há tardes, quietas

Há o tempo passeando nossa memória, brincando de ser

A ilusão que sobrou e não se deslinda

A vida escrita com as coisas que ainda não sei

Você, eu já te conheço, ainda

Dentre as flores sempre há uma mais linda

Você me encanta

Você fala à minha alma

Insaciáveis gestos de ternura

Como a manhã que se abre e enche de teus olhos o dia

Brisa brilhante cheia de atenção

O instante é este

A vida é esta

Nem tudo é sempre claro

Cada dia é um e sempre e raro

Olho você com olhos de prisioneiro

Olho você como o autor de um crime indefensável

Você estaria na minha morte, na minha condenação, na minha expiação?

Você seria parte da sentença de mais uma vida dentro da minha prisão?

Você é a amiga que eu gosto,

Você é a amiga que a Natureza me deu pra eu não chorar

Você é

sossego,

calma,

tarde quieta,

balanço de rede

canção

às vezes sim, às vezes não