Luzes da aurora

Por que, Senhor , Vós

Me destes as trevas depois

De eu viver tanta luz?

Por que me distanciei do lar

Onde habitava e viajei um mundo

De delírios, devaneios e fantasmas

(Leila Echaime in "Poesia Reunida" - "Delírios")

E agora que farei...

Se tua pele ainda acalenta as minhas mãos

Se os nossos sonhos,

exaustos,

ainda dormem em meu travesseiro

Se as luzes da aurora escorrem nas vidraças

embaçadas pelo sol ainda frio da manhã?

Se as manhãs já não sabem dizer o que é passado?

Na casa ainda vivem o gesto e o passo,

abrindo portas,

tardando a chegar dos álgidos outonos

Ainda vivem palavras

neste silêncio tão sozinho em mim

Por entre as rosas e os jasmins sopra a brisa

íntima e derradeira

Enlaço-me a essa brisa esbatida em tons vermelhos,

brancos, amarelos, rosados,

recitando monólogos sobre o jardim

e parto,

antes que o dia nem bem nasça

e que na brisa que passa

como eu chegue ao seu fim