Minha amiga soul(in)down

Minha amiga solidão

O asilo fim da alma

Meu exílio recorrente

Chão do qual sou pertencente

E habito ao visitar.

Minha amiga solidão

Melodia e som das ondas

Quando trazem só a si

Voltam, levam areia e só

Semifusa em sol menor

Embalando o sofrimento

Quando o vento assovia

Diminuta melodia.

Minha amiga solidão

Sombra fria do sorriso

Ermo, íntimo aprisco

Pele, áspera espera

Velejando à luz de vela

Mastro de retalho e pluma

Das asas de uma quimera.

Minha amiga solidão

Tens meu ego contrafeito

Ao regalo da saudade

À deriva, sem alento

Leito lento do tormento

Alimento da tristura

Das pétalas da amargura

Da oitava primavera.

Minha amiga solidão

Uma estrada de mão una

Que a saudade corre nua

Contra o tempo se acentua

Só as sombras se refletem

Fracionadas em migalhas

Espalhadas pela rua.

Minha amiga solidão

Névoa espessa dissipada

Despertando em alvorada

Bem vestida de chegada

Quando finda o sentimento

De um resguardo compulsório

Sustentado no vazio

Fixado no horizonte

Na aurora da retina.

Conta-gotas de arco-íris

Remédio de estimação

Retroage em quinzenas

Dores da sina passada

Sua demora desvelada

No intervalo do piscar

Retornando ao meu lugar

Por estradas curvilíneas

Sustentadas nos lamentos

De uma sala de estar.