Viciado nas palavras
Viciado nas palavras
Somente quando me faltou à droga,
Eu percebi que era tarde.
Eu já estava viciado,
Era mais um dependente,
Mais um tolo outro covarde.
Minha mente rumava para a convicta demência,
Eu precisava de outra dose,
Meu corpo se retorcia de espasmos seria isso abstinência?
Nos poucos instantes que me restavam ainda de lucidez,
Busco saciar esta vontade antes que ela me enlouqueça de vez.
Viciado pelas palavras
Escravo da poesia,
Fissurado em pontos finais vírgulas e mistérios nas entrelinhas.
A sina de todo poeta, dramaturgo ou escritor,
Ser servo das palavras,
Terás como teu amo, seu pai,
Seu senhor.
Falar não adianta
As palavras são maldosas,
Elas exigem serem eternizadas em versos, poesias ou prosas.
A providência divina me ajudou,
Entre as coisas jogadas num canto encontro um papel surrado e uma caneta,
Quando vou saciar meu vício constato o pior,
A caneta não tem tinta
O lápis já não pode ser mais apontado,
E pra piorar o meu estado,
O computador esta quebrado.
Busco uma solução rápida,
Pois minha sanidade está se desfazendo.
Em uma crise de espasmos percebo no bolso o celular a salvação perfeita,
Ah o celular meu salvador a minha cura um guardador de letras.
Minha visão esfumaçada,
Não consegue distinguir com clareza as letras pequenas,
Mais a necessidade de escrever corrompe facilmente tal problema.
Então começo a unirás,
Como um ferreiro une o ferro.
Começo a criar palavras saciando meu desejo
Acalmando minhas dores,
E destruindo a minha ira,
Dou vida aos versos
Assim como um oleiro da forma a argila.
Crio canções sem ritmo
Sonetos sem métrica,
E até rimas com que em nada rimam.
Eu volto a escrever, escrevo coisas sem nexo algum,
Palavras são jogadas na tela, fazendo assim meu peito voltar ao comum.
Então aos poucos volto ao normal,
Minha sanidade agora é plena e menos letal.
Ó perdão, eu errei o adjetivo,
Eu não voltei a escrever.
Voltei a me sentir vivo...