Juro que não escrevi esta poesia que era pra ser sobre o meu silêncio
Ó cérebro, ó cérebro!
Esconde-se nas tuas rugas a minha tagarelice
Esconde-se tão profundamente
Que não mais deverá sair
Nunca mais, nunca mais novamente.
Ó cérebro, teus olhos são os meus
Tu vistes, tu vistes!
E tu falas pelos cotovelos que não tens, pois são meus
Tu sentistes o que vistes
E enviastes o sangue mensageiro agitar meu coração
E tu me fizestes tolo, me enganastes
Agora nenhuma palavra sairá
Nem uma única palavra maldita
Nem um som, um sopro qualquer
Sairá
Agora verei, sentirei e deixarei o coração espernear
Com as pernas que não tem, pois são minhas
Deixarei sofrer, deixarei explodir
Deixarei bater tão forte a ponto de ser ouvido por marcianos que vivem em algum outro Marte de alguma outra galáxia
E virão à Terra (desta galáxia desta vez)
Para averiguar quem manda sinais de angústia tão profunda pelo Universo afora
Chegarão aqui dois mil trezentos e quarenta e dois anos depois e ainda estarão pasmos com os gemidos silentes do meu coração
Mas as palavras... nenhuma sairá
As palavras, ó cérebro
Ficarão encerradas em tuas rugas mesquinhas
E quando minha boca desorganizada se abrir será para suspirar
Mas suspirar em silêncio, escondido
Sem ninguém ver
Mas olha... sem ninguém mesmo ver
Ninguém...
Nem se atreva a fazer alguém me ouvir
Não se atreva a escrever isto enquanto estou dormindo