ROTINA
I
Escrevo pausadamente,
preparo meu café de forma natural.
Montes de espantos,
contos de tempos de angústia.
Sorvo meu café de forma gutural.
Amanhã de manhã estarei aqui novamente.
Nada é novo,
nada é velho,
tudo apenas é.
Cantei de tanto ouvir,
cansei de te escutar,
você não me diz nada.
Não vejo em seus olhos e em seus gestos o que ouço em sua voz.
Sorvo meu café de forma nacional.
Crespos tempos de densas formas encrustadas em um milhão de motivos de sorrir.
Ou chorar.
Vou deixar de ter em caixa o que preciso ter em polpas e pontas. Indiscretas liras que me curvam os lábios,
mas não inclinam meu coração.
Amanhã de manhã não quero estar aqui,
quero estar onde eu tiver um pouco da paz que meu coração não se cansa de querer.
Serei apenas um momento,
e se esse momento não bastar,
nada será possível.
A cada por do sol um meio de voar ao sabor de sonhos se torna palpável.
Mas ainda assim,
sorvo meu café de forma sensorial.
II
Tempos idos de sentidos que vou deixar passar.
Quando passei,
sentia um vazio imenso a corroer meu coração.
Montanhas,
sentidos,
vento,
solidão. ninguém me viu,
e quando tentei ser vista,
fizeram-me invisível. ou fiz-me invisível.
Talvez eu seja invisível originalmente,
só não tinha me apercebido disso.
Sou ou não contorno de mim?
Eis a questão que me aflige, ser o quê?
Enquanto eu podia, enquanto tive forças,
gritei ao mundo. Hoje,
sofro calada,
não querem saber dos meus ais.
III
Eu queria estar de acordo com os versos que escrevo,
correr atrás de um verbo que me explique meus ais.
Sou menininha que sente,
mas que tem medo de sentir.
Saber é sublime,
porém poucos sabem.
Além disso,
nunca me interessei por movimentos mecânicos de pensadores indistintos no meio do caos.
Voejando na órbita insípida de montanhas que atravessei,
levaria um dia tido como meu.
Porém,
nem meu primeiro nome sabem.
Não empresto minha voz ao mundo,
dou-lhe meu silêncio.
Cansei de ser um conto,
serei um ponto.
De partida?
De chegada?
Não,
serei um ponto final.