O POVO E O MAR

(REFLEXOS DE HUGO)

E TAL QUAL COMO TU, PACIFICO E TERRÍVEL.

SOB O ARCO DA AMPLIDÃO, MARAVILHOSO NÍVEL,

POSSUI A IMENSIDADE, A FORÇA E O MOVIMENTO:

ENFURECE-O UM BAFEJO, E O NUM SÓ MOMENTO

O JUGULO. HOJE, ECOA IDÍLIOS E CANÇÕES!

AMANHÃ, RETROVEJA O URRAR DE CEM CANHÕES!

OS MONSTROS COLOSSAIS, SOB A ONDA ESPUMEJANTE

DORMEM; A TROMBA AÍ NASCE, E DO PÉLAGO HIANTE

NÃO VOLTA QUEM ROLOU NOS VAGALHÕES INSANOS!

RUDE ESMIGALHA AS NAUS COMO TU OS TIRANOS.

QUANDO A BORRASCA O ASSANHA E HORRÍSONA O ESPOREIA,

É O FAROL PARA ELE O QUE É TI A IDÉIA.

FULMINA E ACARICIA; E SABE DEUS SOMENTE

O QUE LHE BROTA DA ALMA INDÔMITA E FREMENTE!

SUA VAGA ONDE SE OUVE O ENTRECHOCAR DE ESPADAS,

REBATES DE CLARINS SUPREMAS DERROCADAS,

ASSOMBRA A NOITE, ASSOMBRA O CÉU, ASSOMBRA ATERRAS!

PARECE A VOZ DE DEUS QUE O UNIVERSO ATERRA!

SENTE-SE BEM QUE O MAR, - Ó TORVO HUMANO ABISMO!

É TAL QUAL COMO TU CHEGANDO AO PAROXISMO:

TENDO ONTEM BRAVEJADO, HÁ DE HOJE DEVORAR!...

PORQUE ESSA ONDA É UMA ARMA! ELE SABE ENTOAR

TAMBÉM UM HINO MEIGO À VENUS QUE ALÉM RAIA.

SUA CONVEXIDADE ENORME ONDE DESMAIA

DO AZUL A SÍNFONIA, ACEITA, REFLETINDO

ÁS ESTRELAS DO CÉU, TODA TREMELUZINDO...

ASSELVAJADO E CRUEL, TEM A FORÇA BRUTAL

UNIDA, TODAVIA, A UMA GRAÇA REAL.

ARRASA A PENEDIA E POUPA O HASTIL DA GRAMA;

E ROLANDO EM SEU SEIO A PÉROLA E A LAMA,

COMO TU, COSPE A ESPUMA À FACE DAS ALTURAS,

DESTROÇANDO A RUGIR, CADÁVERES E AMURAS!

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PORÉM SÓ ELE, Ó POVO, Ó FALSO POVO IMBELE!

NÃO ESQUECE JAMAIS O SEU DEVER! SÓ E'E

NUNCA, RECUA QUANDO, ESTÁTICOS, DE PÉ,

ESPERAMOS NA PLAGA O SUBIR DA MARÉ!...

1893.