O direito de ir e vir
Tem hora que me dá um enjoo
Uma gastura no juízo
Quando vejo menino homem que não sobe em mangueira
Que não chupa a manga até zerar o caroço
Que não se deita em esteira
Tem hora que me dá um arrepio
Forma-se na cabeça um corrupio
Com esses meninos que não fecharam a moleira
Que não tomam jenipapada
Mas tomam um refrigerante inteiro
Em uma só golada
Que meninos são esses que sentem nojo do chão
Com os pés metidos em meias e tênis
Parecendo umas antas
Enfiados numa bermuda
E nos ombros uma camiseta
Meninos que têm medo de baratas
Que comem com todo gosto
Um pacote completo de biscoitos
Agarrados de dois em dois em um rosa meloteira
Que meninos são esses que nunca se acordaram
Pingados pela pingueira
Que temem calangos
Que meninos fizemos
Todos sofrem de tremedeira
Roem as unhas
Ficam nervosinhos por qualquer besteira
Que tudo sabem sobre o rock pauleira
Mas fazem bico para desaprovar a boa música brasileira
Que não conhecem e nem sabem como são catitas
As meninas com as madeixas enfeixadas
Por laçarotes de fitas
Que meninos são esses da tecnologia
Que se espantam com passarinhos
E correm léguas com medo das jias
Que meninos são esses magros e desbotados
Escondidos do sol
Nos quartos trancafiados
Que meninos são esses que não tomam banho de chuva
Não correm pelas calçadas
De forma alguma levam palmadas
Mas podem passar a noite sem dormir
E nada sabem da vida
Mas exigem, de acordo com a lei,
O direito de ir e vir