MELINDRA NOS POMARES DA BABILÔNIA
 
 
A morada simpples
E os arredores
De vítimas
Comparsas da jornada
Nada entendem dela
Como ela mora
Lá em cima
Sem ter ao menos
Alguém pra amar
Desce sempre a mesma
Estúpida sem fala
Desenha calçadas
Abraça ruas
Que nuas se cobrem dela
Acende farois
Os lençois parecem voar
Da janela
Atras do que ela vai buscar
Vestido de moça
Cumpre o retorno
De quem busca
O que dela quer amar
Estuprar
Arrancar seu coração
Que duro
Ama o escuro
Que deixa p’ra trás
Há uma paz invisível
Quando o dia acorda
Trepadeiras velhas secas
Trepam no antigo
Jardim suspenso
Tijolos descobertos
Cai cimento
Das frutas
Que não frutam mais
Um dia o andar de cima
Já teve uma visita
Estranha
Havia tranças atadas
Na sacada
Transas embrulhadas
No estômago
De quem passava
Gritos  nos volumes
Mais altos
Pedindo mais chuva
P’ro verão morrer
Um salto aos pedaços
Do sapato
Que ela sempre usava
Tremia as dores
Dos tolos em volta
Silêncio derrepente
Se ouve
Mistério da luz
Que acendia e apagava
Depois queimava
Uma mão trêmula
Posta no vidro da janela
A outra risca o vidro
Querendo arranhar
Desenhar a voz
Que precisa  sair
O  asco de quem pressente
Não sente o orgasmo
Que dela suspira
A ira dos fracos
É um ilha sem espaço
Só podem “alugar”
Nada mais por fazer
Desce o macho
Que está alto e sem camisa
Desce ela com a camisa
Machada e apenas um
salto
manca risonha
vai até o bar
pede um sarcasmo
sem apêlos
quer tomar
o que parece um templo
de loucos sussuros
invade os muros do absurdo
que nada temem
nada tem
vivem orando seus corpos
sem amar
ela vê os vestígios
dos seus passos
no cansaço
de quem procura
não olhar
volta sem camisa
apenas pela íntima
se pode olhar
que as chamas deixam
um perfume
um ciúme que faz sonhar.