VINDO DO NADA: NADA
Ás vezes, olho para detrás do mundo,
para aquele espaço mais escuro, mais fundo,
nascido das palavras que ninguém quis dizer...
e vejo que, em vez delas, se ergueram sombras,
e que travestidos gestos, apenas iniciados,
foram deixados
por fazer,
como se fossem pontes que ninguém quis construir,
nos caminhos de acesso a momentos delicados
que ninguém ousou,
impedindo-os de existir..
( Em vez delas, palavras, instalou-se um vácuo...
uma falta, feita de algo não expresso,
nem abertamente confesso
ou claramente assumido,
apenas algo não proferido,
um vácuo, apenas vácuo... )
Vindas de lá, numa quase-surpresa,
escuto vozes que são de todos nós,
fazendo-se presentes,
nessas palavras ausentes
que usamos para ficar sós,
em escolhida rudeza.
-E, em todas elas, falta a coragem
de falar de amor...
31 de Maio de 2007