ÚLTIMO POEMIX DE 2015

ÚLTIMO POEMIX DE 2014

Esse ano teve muita tristeza, tanto pra literatura quanto pra arte no geral quanto pra mim. Mas teve muita felicidade também. Agradeço a todos que continuam acompanhando a trajetória viajosa dessa criatura que vos escreve.

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escrevo muito.

produção fordista de poemas?

nah.

fusquista mesmo (e olhe lá)

de vez em quando pifa

e só pega no tranco

ou deixa no prego

é bom que ando

pego um vento paisagem

(e se for muito idiota

outro resfriado poético

pra morrer de assoar viagens)

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vai te nascar joão

vai te nascar josé

vai te nascar maria

corra sozinho com a vida

da minha marcha cuido eu

e se reclamar

faço outro pit stop

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INDIRA

(encomendado por Karla Costa, para o aniversário de sua irmã, Bruna Costa)

ia ser de nome

virou pura beleza

de almar calmo

parada dura

mas cremosa

o mais doce dos sorvetes

(iderretível)

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fui no varal

botar a poesia pra secar:

evaporei viajosidades

ele foi no sarau

mandar o verso declamar:

virou de costas pedindo bis

pra ela

no luau

botando a música pra cantar

comprou um quilo de fá-

rinha de calo

em calo

pra encher o papo reto

pra fazer fazer farofa com notas

doces (ilusões)

vivia de luz (do palco)

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a valsa precisa continuar,

menina.

se pisarem teu calo

ou errarem o ritmo

continua

que a valsa precisa

dançar no teu corpo

a valsa precisa continuar,

menina.

gira

senão teu mundo para

e a orquestra é em vão

pega a primeira mão

dá mais uma e a terceira

pra pintar um outro clima

pra chover fazer sol

e chover fazer sol

e chover fazer sol...

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A PIANISTA

cada nota

no caderno da peça

costurava a margem

da partitura de sua vida

insistia em respirar

pelos dedos

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de hoje a uma oitava

ia mudar o arranjo

encontrar outro tom

o antigo não tinha alcance

pra tocar o foda-si-lá-sol

(acorde pra vida)

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Não sei como te aconselhar hoje. Ficarei calado. É o melhor conselho que eu posso te dar. Ficar calado e nada mais. Não sei que tipo de conselho é exatamente ficar calado, se "vai em frente" ou "para tudo", mas não tenho outro. É esse e esse mesmo. Vim dos cafundó do judas pra te ver. E ficar calado apenas. Sim, pode falar.

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Espero que tu se encontre. Já que não aceita meu toque, espero que a vida toque um toque de recolher-se a si mesma pra pensar na vida. Pelo menos pra pensar nos descaminhos que tu se meteu.

É. isso mesmo. Descaminhos.

A vida te deu sapatos. E roupas. Um palco até. Você aproveitou o palco e fez dele passarela. Desfilou uma coleção inteira de máscaras para os outros te aplaudirem. Eu vi. Não aplaudi, esperava a atração da noite: a máscara de carne viva feita de máscaras caídas. Acabou o desfile e meu look esperado não veio. Os outros ainda aplaudem. Eu fui pra casa me jogar no sofá e tomar um licor e pensar na vida. Você ainda anda no palco chicoteando sua plateia pra ser aplaudida. Eu chicoteio a minha preguiça pra ver se ela larga de mim e eu cuido da vida. A minha.

Um dia talvez a plateia irá embora (quem sabe não junto da minha preguiça?) e eu volte lá correndo só pra ver a atração principal. Aí sim irei aplaudir. Quando não for preciso plateia e sua única máscara for de carne, tu vai merecer todo o aplauso que eu não te dei. Não vai precisar me chicotear nem nada. Só descer do palco e desfilar pelo resto do mundo mesmo, que é palco bem maior que esse circo que faz turnê eterna em qualquer lugar. Circo sem plateia, todos palhaços. Piadas prontas e repetidas. Sem graça. A vida é uma graxinha: suja a mão e faz tudo escorregar assim. Preferia rir com a evolução alheia, mas só tem desgraça pra botar no pão. O jeito é engolir a seco.

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GRAMÁTICA DO APERTO

fui no

fui nu

fui all

não sei nem como

só sei que

fui

(que tá brutal)

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JACARÉ

o pôr do sol

engole sapos

coaxando ravel

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SAIDEIRA

saía sempre

para fora da cas(c)a

quase todo dia

mesmo quando não saía

avós encorajava

saia com ele

ou com ela

eles elas ou a sós

se quiser saia com nós

ou babados e curtinha

saia de qualquer jeito

só não mostre quase tudo

(aí não, já vira cós)

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mulher maravilha

não era alice

era o país inteiro

nua mulher só

eu fui um chapeleiro doido

tentando decifrar seus enigmas

de clássico do meu coração

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ficou pra escanteio

no canto do campo

sem bate-bola nenhum

não foi cantada

cantou

(sozinha)

soul de placa

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ZEN [VAGA]BU[N]DISMO

tu tais

onde deveria

estar aí te faz

ser apenas

um tu mesmo

desde sempre

nada mais

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ZEN [VAGA]BU[N]DISMO

comer é sagrado

diz o gordo buda

antes de alcançar

a garfada do nirvana

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ZEN [VAGA]BU[N]DISMO

seu corpo

é a casca

do mundovo

parta a casca

mexa tudo

bata em never

mas nunca queime o miolo

---

vejo gatos por todos os lados

quando não há um

gato dentro da cabeça

ronronando pulos do gato

de ideia em ideia

no meu cérebro-telhado

há outro

gato fora ronronando

um novo salto pro agora

no relógio da rotina

tem gato pra toda hora

---

naveguei os sete amares

até afundar sem querer

minha barcama solteirão

(fiquei a S.Ó.S.

com um gato-iceberg)

---

SEM TÍTULO, SEM VACINA

começa causando cegueira

o amor, doença fatal.

mata tristeza, depois razão,

e de vez em quando um mal.

só não sei se a infecção

é vírus ou bactéria.

um parasita ou fungo, quem sabe,

se espalhando por uns corações

definhando em outros

que pegaram resistência.

(infelizmente)

vou sair arrancando máscaras

e espirrando amor

pra ver se vira pandemia.

no terceiro dilúvio

morreremos apaixonadamente.

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ela me deu um gelo

eu esfriei a cabeça

ela deu outro gelo

esfriei o coração

no terceiro

esfriei o passado

mandei o iceberg de

lembranças

pastar

lá pelo mar

da saudade

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FELIZ NATAL

feed de boas novas:

reborn this way

(o amor do mundo)

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FELIZ NATAL

tempos modernos

estrela de led anuncia:

boy jesus

nasceu

no insta-bulo

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SANTA CEIA

esperou

às migalhas

talvez lhe remissem

o pecado

de ser pobre

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SANTOS QUEIRA

esperar que a gente

saiba o que faça

talvez

nem eles saiba

e ainda acha massa

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FELIZ NATAL

lá vai papai noel

caminhando pelo caos

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BOAS FESTAS

diz-se pros outros

no entrenatal

no verso:

válido até o carnaval

ou páscoa se bem cuidada

esquecida nos silêncios

um desejo de felicidade

solitário

(especial eterno de ano novo)

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A VIRADA DO ZODÍACO

esse ano te prometeu uma Revolução Estelar,

mas acabasse foi levando um Grande Chifre.

ao menos mandou a criatura pra Outra Dimensão

e afogou as mágoas nas Ondas do Inferno

(tomou uma Cápsula do Poder pra aliviar a sofrência

e passou o rodo na balada inteira).

viu certas pessoas cheias de intenções MALÉGNAS

fazendo Invocação Dos Espíritos MALIGNOS pra te afetar

mas não se importou, achou que ia se livrar,

pois o Tesouro do Céu estava contigo. achou.

tua ira, teu estresse em relação às desgraças

comparam-se facilmente à Cólera de Cem Dragões.

esse ano tu teve vontade de enfiar uma Agulha Escarlate

entre o dedo e a unha de certas pessoas, eu sei,

ou ao menos uma Flecha no ego de outras,

torcendo para que fossem queimadas por um Trovão Atômico

ou o que quer que seja.

nesse ano com certeza tu não teve paz,

as línguas foram mais afiadas que Excalibur.

era preferível que tu, em vez de esquentar a cabeça,

a colocasse dentro de um balde de água fria

(fria tipo Zero Absoluto, coberta de Pó de Diamante),

mas tu não conseguiu.

até achou rosas no meio do caminho, mas tavam cheias de veneno.

Rosas Diabólicas, Rosas Piranhas. Rosa Branca não tinha.

e mesmo assim, com teu horóscopo a sussurrar-lhe desgraças

(todos os dias)

ainda encontrou muitas alegrias e foi abençoado,

seja por pena de alguma deusa ou por Clamor do Zodíaco.

O que tu vai fazer do ano que vem? tua Exclamação será derrota ou vitória?

Dija Darkdija

Dija Darkdija
Enviado por Dija Darkdija em 31/12/2014
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