REBARBAS DO MEDO SEM MEDO.
A palavra desentala, desfibra
desembesta a alma em euforia
imanta.
A palavra digesta, emana
amálgama o tempo,
desaflige o certo.
Palava é marmita em gestação
passo sem folga, voz poente,
traz o chão para perto,
limpa os encardidos de luz sem reclamar.
Palavra respinga, estilinga a mágoa,
faz a dor parar de suar, de ser,
caça as rebarbas do medo sem medo.
Palavra é folguedo, é tiro saltitante,
entende nossas entranhas como ninguém
sabe nossos vãos, nossos maltrapilhos desejos,
sabe onde vamos parir, recuar e morrer.
Palavra desembesta, chuta o pau da barraca,
escrava fiel, laladinha sem arremate,
gozo começando a emergir.
Nunca abandona sua trincheira,
nunca tropeça, mesmo bêbada e dopada,
nunca se esquece, mesmo velha e senil.
A palavra deixa rastro por onde anda
deixa filhos por onde rega
deixa saudade por onde descansa.
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