TEXTURA DE MARZIPÃ.
Culpa é medusa nefasta, traiçoeira,
vem à tona descabelada, desnuda, catando ar
vem à vida querendo consertar os rios, as montanhas, tudo,
e o pior é que consegue.
Culpa é vigarista que nunca sai da guarita,
tem olhos pegajosos, cheiro empastado,
convence suas rédeas melhor que ninguém
e não esconde nenhum mastro, nenhuma pegada, nada mesmo.
Culpa é esquisita, caminha cambaleando os ventos,
tem gosto de água vencida com textura de marzipã
adora virar sapo, adora fazer o oásis arder em chamas
delira quando nos deixa de quatro, com vontade de esquecer como respirar,
delira quando esmigalha as amarras douradas das certezas,
delira quando assume o trono pra nunca mais arredar pé.
Culpa é armadilha bem torneada, chão que nos faz mais velhos antes da hora,
fingir que não existe suaviza o tombo e adia nossa sentença
fingir que não vigora encarde a alma e faz o que era lindo virar um ralo só.
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