Poema Omisso
Ai de mim
Que sobrevivo das migalhas dos malfeitores,
Que amo insensatamente
E peço clemência a quem espera pela minha ruína .
Sou a flor que nasce entre as brechas do concreto
E faço de tais cantos lodosos a minha moradia.
Nascida ao acaso,
Como se viesse ao mundo sem propósito .
Um completo vazio dentro de outro!
Ao mesmo tempo,
Em mim há tanta beleza, ó poesia,
Que por vezes sinto que não vou suportar.
A qualquer momento explodo nos braços do vento
Que uiva docemente em meu ouvido me convidando para dançar
A última valsa sob o sol do meio dia.
Seduzida pela sua cantoria,
Danço.
Deixo os cabelos caírem sobre meu rosto,
O vento audacioso levantar o meu vestido
Como se não tivesse pudor algum .
É neste raro instante
Que me sinto parte de alguma coisa.
Me sinto pertencida a esta ausência
Que é tão cheia de fascinação e promessas.
Sou aquela flor , ó poesia ...
Sim , que confia na chegada da chuva.
Fiel dependente da sorte.
Ninguém repara.
Ninguém vê .
Mas ela está ali -
Uma atenta observadora
Dos pedestres que caminham
Apressadamente pela praça.
Odeio a solidão e todas as suas consequências,
Mas em meio a ela despertou em mim
Um amor platônico pela inexistência
Que se fez minha confidente
No apogeu de minha confusão.