NOITE DE INVERNO

- FOLHA DO MEU CARNET, PAG. 31 -

AO DR. ESTEVES DE ASSIS

CHOVE! LADRA LÁ FORA O VENTO; QUE AGUACEIRO!

DESDE A MANHÃ O DIABO A CAIR, A CAIR.

ABRO A JANELA - ESPIO: A NOITE É UM TINTEIRO

DERRAMANDO PELO AR... E EU PRECISO SAIR.

CHOVE! MAS QUERO IR VÊ-LA, E HEI DE IR VÊ-LA, QUE IMPORTA!

SAIO - A RUA É UM MAR! POR QUE, CHUVA MALVADA,

MOLHA-ME ASSIM A CARA? É LONGE A SUA PORTA,

JÁ EM PAPAS A CAMISA E CARTOLA ESTRAGADA!...

CÉUS! OS PÉS NUMA POÇA!... ADIANTE! ELA ME ESPERA,

CHEGUEI! AVISTO A CASA; ESTOU QUASE A VOTAR...

ENTRO?... NÃO ENTRO!... EU TREMO, É DE FRIO, PUDERA!...

ENTRO E SUBO A ESCADA E BATO - ENXUGO O IRAQUE.

EI-LA! QUE INCÊNDIO N' ALMA!... EIS-ME AGORA A SUAR...

FOI TAL QUE SE ENGULISSE UM CÁLIVE DE CONHAQUE!

JUNHO DE 1892