ELEGIA do CONSUMISMO

Quando anoitece

Isadora sai da gruta entupida de flores

voando na carne que rasga o solo como navio de lâminas macias e infalíveis

Quando o silêncio é corpo erguendo o sol

a cabeça

de tudo o que a humanidade não corrompeu

Isadora amplifica o fogo que rasga paredes e derrete a caixa-forte

que mantém segredos nas trevas

e metrifica as chamas do

desejo

Como ir ir aonde se sabe os muros dão voltas na cabeça de quem avança?

e computadores de asas incandescentes patrulham a Existência?

Vem a noite

Foguetes congestionam o tráfego astral

repleto de anjos com motor 2.8

somente o crédito imediato

conduzirá às portas do céu, baby

enquanto Deus estende o deserto para a cerimônia

em que seremos apresentados às nossas almas

descobre-se: o universo é estranho ao número

e Isadora paira nua sobre nossas cabeças televisivas

sucatas de

sonhos

somos caos e ira

e queremos um líder para nossos medos

baby

nem o vício nem o ódio foram deixados intactos pela Indústria

Isadora dorme na fome das ostras

num oceano vazio ecoando de perguntas pelas crateras

Isadora é uma interrogação nos domínios do sol

Fuga

a catástrofe desaba sobre as fortalezas

antes inexpugnáveis

dos donos do mar

resta pouco tempo

a terra abandonada

passiva

espectros espreitam

das trevas mais próximas

Isadora

é a força da natureza

onde as máquinas são império

é uma carícia arrepiando a mecânica

é um pássaro puxando no bico

a faixa de encerramento

das eras de corrupção

e mentira

lama e ferro-velho

cobrem as estradas

do céu e da terra

bruxas e demônios

fazem a noite

a TV lança o derradeiro grito

pessoas programam a dor

desabar