Alma doce.
Minha alma sonha sem quedar
revira suas asas sem trégua
deixa o vento menino e feliz.
Ela sabe que tenho esperas
sabe das minhas transfusões
conhece meus ossos roídos todos.
Minha alma tem voz, cheiro, cor
respinga hálitos de flor por tudo que é lado
não se deixa vencer nem esquecer.
Minha alma encanta sem tropeções
solta as rédeas, destrava os medos,
espalha votos de lutas e de paz
como sempre quis.
Minha alma é doce, fácil de fincar
nunca desespera nem espera
é perdiz atrás do rango matinal.
Dessa alma tão escalada,
que hoje venho me curvar e afinar
cada vão tosco dos meus sonhos
cada furacão fugido do meu amor
cada verso falido das minhas ilusões.
Dessa alma tão menina, tão bandida,
que não serve a janta sem trocados a mais
que não andarilha sem pedidos do Rei
que não morre sem as fadas dizerem amém.
Dessa alma corroída e assim mesmo plena
dessa alma distante e tão aquecida
dessa alma que arrepia Deus até sempre
que hoje faço de rogado e vou à forra
trazendo no bojo dos seus peitos uma canção só
essa mesma que agora acabei de purgar
que agora mesmo enfiei nessa trouxa e fui embora
para nunca mais voltar
para voltar sempre.
Sempre voltar.
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