Tempo menos ávido.

Compartilhar a mão, o gosto, o tudo

deixa a gente mais desabotoado, com a alma mais folgada,

mais ressuscitada.

Compartilhar refaz o fôlego, desamassa o medo,

faz o tempo caminhar menos ávido, menos bamba.

Compartilhar é preciso antes que tudo inunde, tudo seque,

tudo fique saudade, tudo fique descarrilhado.

Compartilhar é santo, desarma a raiva, desfaz o breu da solidão.

Compartilhar imanta, religa nossos ossos, traduz a luz.

Compartilhar é vasto, desentope as artérias da dor, acalma os gritos

de uma paixão que perdeu a hora, que perdeu o fio.

Compartilhar faz a gente menos coalhado e bem mais bonito.

Compartilhar exige rasgar amarras, desfincar trêmulas ideias,

faz o peito debruçar suas lanças numa linda canção.

Talvez seja a melhor coisa que podemos fazer

quando tudo parecer corroído, surrado e chicoteado até sempre.

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