Perdão, caminhada tosca, suor empedrado.

O perdão incomoda, convulsiona, desgarra,

é sina maldita, falácia indigesta, visita rasgada,

deixa o tempo revolto, a calma insana, a razão vencida.

O perdão coalha, esmurra as ideias, desafaga a paixão,

deixa as cores um breu só, deixa o gosto uma amarga saideira,

faz toda caminhada tosca e o sonhar empoeirado toda vida.

O perdão desparafusa o coração, esmigalha cada olhar,

deixa o olfato em esgoto e o suor empedrado,

faz a gente se acuar até de nós mesmos.

O perdão encarde os desejos, faz a alma esquecer seus ritos,

esmigalha sentidos, enfurece Deus, emburra cada novo passo,

deixa a pele um tumor só e os sentidos castrados até sempre.

Mas sem o perdão não há alívio, não há arremate,

sem o perdão não há eco, não brota luz,

sem o perdão não cicatriza, nem repousa,

sem o perdão não há paz, a ferrugem não cessa,

sem o perdão não há chão, nem fé,

sem o perdão sobreviveremos de qualquer modo

mas isso não valerá a pena um segundo sequer.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 28/12/2014
Código do texto: T5083410
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